quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Tira o pé do chão

Não sei se você já notou, mas quando o assunto é música, meu negócio é rock 'n' roll. Assim, brega mesmo, fazendo chifrinho com as mãos e cara de mau. Mas a família e os amigos mais próximos não partilham do meu gosto, e se ligam numa micareta.

Micareta, mãe (aprendi com certas pessoas que, quando você coloca um termo mais específico num texto, tem que explicar antes pra mãe), é um carnaval fora de época. Ou seja, um tipo de festa em que a moçada vai pra beber demais, ouvir música ruim demais e beijar demais (mas só no rosto, mãe, não tem pecado na parada). Até aí, tudo bacana, tudo legal - gosto é que nem cu, então desde que não ponha seu pau no meu gosto, está tudo bem.

Também não me incomoda mais, como em outros tempos, a felicidade abundante que os micareteiros espirram por aí. Fazem é muito bem, errado sou eu que choro ouvindo Lou Reed. Só me chateia a coisa de eles usarem abadá pra todas as situações. Em primeiro lugar, abadá não é roupa, é ingresso. Você não me vê usando apenas minha entrada pro Bob Dylan (mesmo porque ela só daria pra cobrir meu... queixo). Em segundo lugar, porque a regatinha passa uma mensagem do tipo 'eu estive lá e peguei um monte de mina', como se isso fosse motivo de orgulho. Acho legal um assassino marcar com risquinhos na parede os seus sucessos homicidas, mas não há mérito nenhum em esfaquear alguém que já está rodando no chão devido a um ataque do coração. Essa comparação não ficou boa.

O bacana de viver em meio a esse pessoal é que existe uma caricatura de Brasil presente aí. O que pode ser mais brasileiro que 'carnaval fora de época'? O chato é que às vezes eu acabo mergulhando nessa noção errada e perco a mão da semelhança boba, achando que vivo mesmo num país de micareteiros.

Já imaginou um bandido apontando a arma na sua cara e gritando 'joga as mãozinhas pra cima'?

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Dsdfwehvxmjj

Se você acha difícil entender o que eu escrevo, com meus parênteses em excesso e minhas vírgulas mal colocadas, precisa mesmo é me ouvir falando. Aí é que não dá pra entender porra nenhuma.

Eu tenho problema de dicção, e até já raspei no assunto aqui. E não estou sozinho: na família, tá cheio de gente ininteligível. O idioma oficial da Padulândia é falar baixo, rápido e pra dentro. Qualquer conversa que envolva principalmente meu vô, meu pai e eu tem grandes chances de ser apenas um amontoado esquisito de frases jogadas e 'hein?', 'oi?' e 'I beg your pardon como?'.

O diálogo com meu vô costuma ser assim:

Ele: ascfewfsdaqd lá o cara lá, o... Denilso.
Eu: Edmílson.
Ele: Ahn?
Eu: Edmílson.
Ele: Isso, Denilso. O cara pega a bola e vfsadfadvf aaqwerq. Ah, quê que é isso, tá louco.

Já meu pai, além de não ser bom orador, não é bom auscutador:

Ele: Sua mãe foi na padaria.
Eu: ...
Ele: Viu? Sua mãe foi na padaria.
Eu: Que padaria?
Ele: Sua mãe.

O pior dessa história é que uma das frases prediletas dos soldados da autoajuda é sobre como o diálogo na família é o que a mantém unida. Besteira. Com meu pai e com meu vô eu me dou muito bem, sem atritos nem rusgas. Já minha mãe, que é mineira e fala devagar, disse que eu sou demente, fracassado e que vou morrer de câncer de pele.

E se eu falo de um modo que não dá pra entender, acredite: é pra proteger as pessoas.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Ruradélica

Eu nunca achei que a cidade grande fosse um bom lugar pra mim. Toda essa sujeira, essas pessoas apressadas, esse ritmo esquisito, esse trânsito caótico, essa merda toda. Imaginava que o campo e seu ar limpinho e seus matos verdinhos e suas vaquinhas malhadinhas fossem um ambiente mais adequado à minha personalidade pacata. Mas eu estava errado. Oh, deus, como eu estava errado.

Nesse final de semana fui pra chácara de um amigo ajudar a dar um trato nela pra deixá-la no jeito pra putaria e o despudor pro carnaval. Saí da capital paulista com uma mochila nas costas imaginando que ia chegar lá, cortar o mato (com um cortador de grama) e pronto. Estava enganado. Até teve o corte da grama, mas com uma foice - e essa foi a coisa mais sussa. Porque de pintar parede e janela, limpar piscina, carregar saco de cimento, lavar as casas, preparar fiação pra refletor, alimentar os patos, ser acordado pelo galo (esse filho da puta), arrastar duas árvores no braço e travar mortais batalhas com as aranhas, cada minuto do fim de semana foi um tapa na cara, como se deus fosse um caipira de chapéu de palha e garrucha, rindo da minha cara lá de cima.

Olha, não dá. Cidade grande, I love you. Aqui eu não ganho doze cicatrizes por dia, não fico sujo feito um porco rolando na lama e não tenho que lutar contra bestas mutantes disfarçadas de aranhas. Estou moído, sangrando e muito mais macho, mas não troco mais minha vida e minha profissão de mulherzinha por nada.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Já basta

Depois que matei o fotolog e parei de mexer no portfólio, minha carreira de ilustrador frustrado tem vivido nas sombras. Resolvi então, por algum motivo que não está claro nem mesmo pra mim, publicar minha produção marginal durante esses últimos tempos num blog simpático que dá pra acessar por aqui.

Mas vou escrever a URL completa pra você não esquecer: http://chifurimpula.wordpress.com.

Enquanto eu não tomo vergonha na cara e monto um portfólio decente, esse blog vai ser minha vitrine. Se estiver precisando de alguém pra dar um jeito no trabalho de educação artística do seu filho, lembra de mim, hein.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Fotografar ofende?

Eu costumo fazer piadinha aqui com o fato de eu estar alcançando a carequitude, como se não ligasse pra isso e tudo o mais. E eu até acho que não ligo mesmo, até que...

Ah, as evidências fotográficas...

domingo, 8 de fevereiro de 2009

5 maneiras ruins de morrer

Dando seqüência ao tema iniciado na última postagem, agora a lista é feita de 5 modos de morrer tão ruins que fazem a gente pensar se não é melhor continuar vivendo. Na verdade, que me fazem pensar se não é melhor continuar vivendo, porque essa é uma lista pessoal e intransferível.

5 - dormindo

Imagino que esse talvez seja o modo de morrer preferido da maioria das pessoas. Mas vou dizer por que eu rejeito: porque eu tenho insônia.

Dormir é um troço difícil pra mim. Eu fico horas rolando na cama, pensando na vida, pensando no futebol, pensando na minha criação de carneiros que deve ser a maior do mundo. Então, dona Morte, não venha me matar e acabar com a diversão. Há dois momentos do meu cotidiano que eu realmente gosto: quando estou cagando e quando estou dormindo. Mas cagar é um troço que eu faço bem, então relevo, mas se quer me matar, faça isso durante o tempo em que eu estou tentando pegar no sono, por favor. Até porque essa é a hora do dia que me ocorre o maior número de pensamentos suicidas, então eu já estou no clima.


4 - eletrocutado


Você já viu alguém ser eletrocutado? Pode ser de verdade, num filme, num episódio do Pokémon ou numa partida de Street Fighter. É simplesmente hi-lá-ri-o. O cara fica lá se estrebuchando no chão e fazendo uns ruídos engraçados, e todo mundo fica em volta só olhando, porque ninguém quer meter a mão lá e passar pelo mesmo papelão, claro.

Olha, eu estou acostumado a ser alvo de chacota e risadinha. Mas esse é um momento importante da vida, é interessante que as coisas saiam bem. Você não quer chegar no seu casamento, tropeçar e cair de boca no altar, pra sair nas fotos depois com uma janela no lugar onde deveria haver um dente, e é exatamente a mesma coisa aqui.

Quero que minha morte seja um momento triste e desagradável, não uma esquete de comédia pastelão.


3 - espancado por mulher

Então, eu disse há pouco tempo sobre esse lance de eu inventar as histórias da minha vida e tal, portanto deixe-me de antemão avisar que o que eu vou contar em seguida não é uma história inventada.

Eu era jovem e não empinava pipa, então tava de bobeira em casa. Meu pai assistia a um desses filmes horrorosos que ele curte, e eu, sem nada pra fazer, resolvi sentar e acompanhar também. Foi então que ocorreu uma cena mais ou menos assim: uma mulher começa a surrar um cara e arremessá-lo de um lado pro outro da sala. Por fim, ela o ergue sobre a cabeça e o atira contra a parede, pra depois finalizar com uma quebra de pescoço básica. Serviço completo, olha a cena aqui:



Eu fiquei horrorizado. Traumatizado. Por muitos anos da minha vida, tive medo que qualquer menina sequer me levantasse do chão (o que é particularmente engraçado vindo de um cara que pesa 30 quilos). Ainda agora, ao me lembrar do ocorrido e ver a cena no YouTube, fico com suor e tremedeiras. Credo, próximo.


2 - de acidente de carro

Eu já disse tudo que havia pra dizer sobre o assunto nesse post, mas vou recortar um trecho aqui:

Um dos motivos que me apavoram na perspectiva de estar no meio de um colapso automobilístico é a sensação de impotência. Você vê a bunda do carro alheio crescendo na sua frente, mas não dá pra fazer nada - é como ver um meteoro surgindo na atmosfera e rumando pra cair em cima da sua casa. Na verdade, o que me apavora é realmente isso, a bundona crescendo. Se o acidente for de surpresa, melhor. Se a morte for súbita, excelente. Mas essa mesma sensação de você estar quase no topo da montanha russa e ouvir aquele 'clec clec clec' ficando cada vez mais devagar, na proporção inversa da velocidade brutal em que você será arremessado trilho abaixo, eu dispenso.

1 - por empalamento


Sério, precisa dizer algo sobre esse aqui? Precisa? Então vamos lá:

Eu não quero, em hipótese nenhuma, ter uma estaca de três metros de comprimento entrando pelo meu cu e me varando de fora a fora até sair pela boca (até porque pensa, a ponta que sai pela boca passou pelo boga antes). Eu não quero ter que agüentar isso sem sequer poder ter as mãos livres pra me matar antes que a tortura continue. E eu não quero, oh mamãe, eu não quero ter que esperar morrer de hemorragia depois que o trabalho estiver pronto e eu ficar lá exposto feito um frango de padaria. Eu sou muito compreensivo e perdoo bastante, mas se um dia eu tiver que passar por isso é bom todo mundo rezar pra não haver vida após a morte, porque eu volto e faço o diabo com quem sobrou vivo nesse mundo. Não quero saber se teve alguma coisa a ver ou não, tô pouco me lixando: vocês estarão todos fo-di-dos, porque eu serei o fantasma mais terrível que já se viu, de fazer até o diabo pôr as palmas da mão no rosto e dizer 'menina...'.

Depois não digam que eu não avisei.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

5 grandes maneiras de morrer

Antes de tudo, vamos parar com essa frescura de falar da morte. As pessoas tem tanta paunocuzice com o assunto que até chamam morto de 'falecido', como se isso fosse elegante (tipo chamar negro de afrodescendente e privada de vaso sanitário). A vida começou como uma luz no fim do túnel e terminará da mesma maneira, isso não dá pra negar nem evitar. E a morte é uma coisa bacana, só disfarçar de música pop, como fez o Titãs com Epitáfio.

Enquanto você fica aí planejando coisas como sua carreira e seu casamento, eu fico pensando na morte. E como meu mecanismo de raciocínio funciona melhor com bullets e pontos-e-vírgulas e em ordem descrescente, decidi fazer duas listas, e a primeira é a que vai abaixo: minhas 5 maneiras preferidas de morrer.

Porque pensamento positivo não mata.


5 - de november rain

Vocês se lembram desse clipe, né? Agora alguém me explica como caralho a mulher do Axl Rose morre. Ela tá lá fumando e de repente começa a chover e as pessoas começam a fugir feito loucas, e aí ela tá morta.

O que me leva a crer que a chuva de novembro é letal (setembro chove, novembro mata). Há quem diga que eu sobreviveria a uma bomba atômica (o que eu refuto: se forem sobrar no mundo Keith Richards, as baratas e eu, é melhor ir pro saco com o resto do pessoal), mas eu acho que sou frágil pra burro e poderia, sim, ser morto por uma chuvinha (sério, se você não pescou ao menos dois cacófatos infames nesse parágrafo, vá procurar ajuda). E imagino que isso seria o máximo se acontecesse no dia do meu casamento com a Cat Power Chan Marshall, porque pensa só na música bonita que ela ia compor em minha homenagem.

Ah, como eu sou patético. Sorte que morrer não tem nada a ver com merecimento.


4 - por suicídio


Aí você está no seu trabalho, batendo com o lápis na mesa e procurando todas as maneiras possíveis de procrastinar e deixar os deveres pra lá. Porque não é bom fazer algo que você não gosta, que você não quer fazer.

Por isso, se é pra fechar o bar e pôr a vida pra circular, melhor que seja por vontade própria.

Só não me vá fracassar, hein, porque isso é crime.


3 - de
tusto susto

Tem gente que adora uma brincadeirinha. Eu não, porque sou um cara sério e respeitador. Mas tem gente que adora, e curte dar sustos nos outros. Mas todo mundo já viu naqueles filmes ruins de comédia que uma pessoa pode morrer de susto. E aí, como fica a cara do palhação?

Além do mórbido prazer de ter um imbecil eternamente arrependido por ter te matado com uma brincadeirinha, você também ganha passe livre pra fazer o mesmo com ele. Puxar o pé, mover o copo, aumentar a opacidade eventualmente, são muitas as maneiras de fazer o pós vida ter alguma diversão.

E fuder com a vida dos outros é legal pra burro.


2 - pisoteado


Duvido que você, ou alguém que você conhece, nunca tenha se aventurado a imitar uma cena clássica de filme. As mais comuns são aquela na proa do Titanic em que a mulher acha que tá voando (ma é burra, hein) e a semi-pole dance de Cantando na Chuva.

Como minha erudição cinematográfica é bem pobre, vou ficar com uma cena de desenho: a morte do Mufasa em O Rei Leão. Imagina só: tamos eu e Maria andando pela rua, quando vem uma manada de corinthianos fugindo da polícia e me atropela. Maria consegue fugir mas eu, pff, já era. Então ela vai sozinha pra bem longe, fica amiga de um javali e de um suricate, e então eu apareço pra ela numa nuvem.

O que seria bizarrão, já que eu falo com ela como se fosse um retardado se fingindo de mongolóide.


1 - de overdose

Quando o menino que saiu dopado do dentista pergunta 'is this real life?', a gente percebe que essa é só mais uma daquelas retóricas que explicam o mundo com uma simplicidade absurda. E se a vida é um trilho, e a morte é a continuação da vida, morrer careta significa pegar o trem errado pro inferno. Mas morrer enquanto está chapado e, consequentemente, em contato com vida real é o rumo certo pro trem certo da morte certa.

Não sei o que diabo é isso, mas deve ser muito divertido.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

La-la-lies

Há alguns dias eu comecei um negócio que está sendo bem divertido: contar histórias da minha vida que nunca aconteceram.

Eu já disse em algum post antigo (que não vou linkar porque, porra, são mais de 2 e meia da manhã) que acho uma bostona pouco cheirosa o fato de minha vida ser uma bostona pouco cheirosa, e eu nunca ter história nenhuma pra contar pra ninguém. Até pensei em aproveitar isso e escrever uma necrografia, mas fica pro futuro. Aí pensei que talvez fosse interessante inventar a minha biografia (tipo aquele episódio do Seinfeld que eu não vou linkar porque, porra, são mais de 2 e meia da manhã), o que tem se revelado quase tão legal quanto apertar plástico-bolha.

Nessas eu já disse que meu pai era dono de uma fábrica de parafusos (essa é ótima, mas funciona melhor ao vivo), que eu já cantei em barzinho (essa vem acompanhada de um breve discurso anti-Djavan. Se você é o Djavan, vá tomar no meio da porra do seu cu), que sofri dois atropelamentos completos (mais dois que não são algo que se diga 'nossa, que atoprelamento'), que minha mãe sofreu uma picada de cobra quando era pequena e eu tenho um pouco do veneno no meu sangue até hoje, que eu fui manobrista, jogador de futebol e crítico de música. E vamos inventando, dependendo da situação.

O melhor - e mais impressionante - é que tem gente que acredita. Hoje mesmo, peguei duas pessoas na história dos atropelamentos. Aí, meu amigo, é a glória. Porque sejamos sinceros, por mais que eu não goste de publicidade e tal, o motivo de ter escolhido esse curso é que a falsidade tá no sangue. Eu adoro mentir, e ainda estou procurando um jeito de fazer disso meu ganha-pão (não vale publicidade, dã). Além do mais, se é pra ter algum adjetivo pejorativo associado a mim, melhor 'dissimulado' e 'farsante' que 'careca, magrelo e ridículo que não tem história nenhuma pra contar'. Se o Cazuza podia inventar o amor dele, eu também posso inventar minha vida pra me distrair.

Mas vou ser honesto com você: de tudo que eu publiquei nesse blog, durante todo esse tempo, só um post era - descaradamente - mentiroso. Mas daqui por diante, não garanto nada.