quarta-feira, 14 de maio de 2008

Você vai se emocionar

Eu não gosto de novela. Acho um saco, não assisto, não quero nem saber. E, exatamente por isso, e por fazer parte de uma família normal (nesse ponto), que está sempre com a TV ligada das 21 às 22, adquiri uma técnica para acompanhar teledramaturgias à distância.

Como eu estou fadado a morrer pobre (o que quer dizer que eu posso morrer a qualquer momento), não vou fazer cu doce e escrever um rápido e gratuito guia pra você que por motivos x (leia-se 'vida') não consegue estar o tempo todo na frente da Globo. Simões, põe na tela:

É bem simples. Assim como um espectro de cores pode definir todos os perfis da alma, ver novela baseia-se pura e simplesmente na trilha sonora. Então você liga a TV, aumenta o volume e vai, digamos, pra cozinha.

Se estiver tocando um pagodão, é o momento do núcleo pobre. Festa, sorrisos, piadinhas - em novelas, o pobre é sempre o alívio cômico. A menos que seu senso de humor seja da profundidade de um pires, nem perca seu tempo.

Silêncio. Diálogo puro, então das duas uma: ou são amenidades, ou é a vilã discutindo com alguém, cena que normalmente vai terminar com um tapa na cara. Se você curtir tapa na cara (broadcasted, não necessariamente ao vivo), pode ser uma boa. Ou se curtir a Suzana Vieira falando merda, também.

Eu odeio a Suzana Vieira.

Música de balada. Aí é fácil, é balada. Gente dançando (sempre, SEMPRE tem um negão black power), o galã dando idéia na modela magrinha, que fica com o sorrisão aberto e nem consegue se fazer de difícil. Também não vale a pena.

Se a música for aquelas tensas mais lentas, com notas seguradas ad infinitum, violinos, violoncelos e o caralho, é o vilão olhando pro nada, namorando sua loucura. Nah.

Agora, se for das tensas frenéticas, corra como se não houvesse amanhã. É cena de ação, e cena de ação numa novela é como ligação recebida no meu celular: se perder essa, sabe-se lá quando vai ter de novo. Por sorte, elas costumam demorar um pouco, então se você torcer o pé na afobação, não se preocupe, continue arrastando-se que ainda dá tempo.

E, por fim, se tocar música de casamento, é o último episódio da novela. Como o casamento vem no final, logo depois da cena de ação onde o carro do vilão cai do precipício, é provável que você já esteja lesionado nesse ponto. Como essas cerimônias são sempre a mesma coisa, sim pra cá, sim pra lá, aconselho seriamente a você tomar o caminho do hospital. Normalmente os hospitais têm uma tevezinha 14 polegadas na recepção, então dá pra ver que encalhada vai pegar o buquê - normalmente a pobre-alívio-cômico.

Ou a Suzana Vieira.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Vida privada

Não há lugar como o lar, assim como não há privada como a de casa, fato, ponto.

A privada, ou vaso sanitário para os politicamente corretos, é o objeto que mais influência pode causar sobre a anatomia de uma pessoa. Uma bigorna não vai deixar uma perna mais comprida se amarrada nela, nem um monte de anéis enrolados no pênis vai deixar o peru maior. Mas toda bunda fatalmente vai se moldar ao formato de sua privada natal.

Aí lá no trabalho o vaso tem uma espécie de estofado no assento. Desculpa a pergunta, mas que porra é essa? Isso me deixa nervoso, me deixa aflito, só de pensar que existe uma almofada a uma polegada do buraco por onde está saindo o que há de mais podre em mim. Simplesmente não combina.

É como cagar no sofá. Nem minha cachorra caga no sofá, por que eu, ser pensante, preciso passar por isso? O negócio é que defecar é um ato de sujeira. Portanto, não espero frescura, não espero conforto, não espero beleza, apenas um assento de plástico com agüinha suja embaixo. Você não faz um depósito de lixo dentro de uma catedral, e é a mesma coisa aqui.

E aqueles papéis higiênicos de coelhinho? Que tipo de mensagem eles querem passar com aquilo? Se já é grotesco pensar em cagar numa almofada, o que dizer de limpar o cu com um coelho? É... disgusting.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Freak fighter II

Lá pelos meus seis anos de idade joguei fliperama pela primeira vez, um daqueles mods famosos de Street Fighter II. Basicamente, esse jogo foi responsável por um turbulento período da minha vida, de dependência eletrônica e humilhações públicas, com minha mãe indo buscar o filho fugitivo nas portas das casas de jogos por ai. Mas me curei e tal.

However, o assunto desse post é outro. Porque assim, algo que te vicia quando você tem menos de uma década de vida pode deixar fortes seqüelas no seu caráter e na sua maneira de ver o mundo. Em Street Fighter seu objetivo era enfrentar lutadores de várias partes do globo, cada um de um país, cada um representando a maneira distorcida como aquela japonesada que criou a bagaça via o planeta. O jogo é ótimo, mas o estereotipismo, patético.

Veja só, vamos começar pelos lutadores dos US and A, que é a nação que abriga mais personagens. Temos Ken, o playboy, Guile, o militar, e M. Bison, o boxeador safado. Esses são fáceis, Ken é o símbolo do capitalismo que acabara de dar um cheque-mate no socialismo soviético, Guile é a representação da obsessão bélica estadunidense, em alta por conta da Guerra do Golfo que se iniciara no ano de lançamento do jogo, e M.Bison era, claro, o Mike Tyson, que em 91 foi preso acusado de estupro (aí eu não sei te dizer se a parada foi antes ou depois do jogo estar pronto).

Até aqui foi fácil. Depois começa a piorar. Já que o Ken era o capitalismo triunfante, teria que haver um representante soviético, e esse é o amargurado Zangief. Vocês lembram (eu não lembro, era muito novo) de todos os mitos assustadores, de que comunistas comiam criancinhas e tudo mais? Pois então, vamos aproveitar o marketing negativo e fazer um personagem que se vista apenas de SUNGA NA SIBÉRIA e que tenha um monte de cicatrizes no corpo por suas lutas em que ESTRANGULAVA URSOS. Sério, depois dessa, criancinhas deviam ser tipo a pipoca na sessão da tarde.

E tá começando a ficar bizarro. Diretamente da Índia, vem Dhalsim, um magrelo e desnutrido e sem pupilas (!) que passa os dias meditando entre elefantes. Seu estilo de luta? IOGA. I-o-ga. A arte milenar que busca o equilíbrio perfeito entre o corpo e a mente agora virou arte marcial. E aí manja aquele negócio que os iogueiros põem a perna atrás da nuca, como se pudessem esticar os membros? Pois então, novidade pra você: segundo quem fez o jogo, eles podem mesmo. E também podem cuspir fogo, cuidado.

Chegamos na Chun-Li. A minha primeira de muitas paixão platônica (oh, criança burra) era, do umbigo pra cima, uma linda oriental com um corpo perfeito. Do umbigo pra baixo, era um minotauro.

A Chun-Li não é nem uma representante da China. Ela é mais uma representante da mulher, como um todo. E aparentemente designers de jogos não são muito íntimos aos detalhes da anatomia feminina porque, oh deus, aquilo está muito longe de ser normal.

Fora que ela não devia pegar ninguém, porque se as pernas são musculosas daquele jeito, ela devia estrangular paus com a buceta.

Não sei como fizeram pra enfiar ela numa calça em versões posteriores do jogo.

Agora respira.

Você, amigo brasileiro, você, amiga brasileira, deve às vezes se sentir incomodado com a imagem deturpada que fazem da nossa nação maravilhosa nos longínquos domínios estrangeiros. Mas isso aqui é demais. Blanka, o defensor das águas tupiniquins, é um monstro. Ele era uma criança normal, aí sofreu um acidente de avião, foi parar na selva amazônica e, evidentemente, involuiu para um orangotango verde, com o cabelo laranja e dentes de crocodilo. Claro. Fora que o cenário dele é uma pequena aldeia amazonense esquecida pela civilização, com uma anaconda (!!) enrolada numa árvore, como se um bicho de estimação fosse.

E o que me deixa mais estupefato nessa história toda é que ele usa uma bermuda. Se eu fosse um ogro verde que desse choque a última coisa que ia querer esconder seria minha trolha. Pelo contrário, depois de tudo isso é mais possível que eu saísse à noite estuprando as menininhas da aldeia.

Pois bem, esse foi meu texto-desabafo. Eu adoro esse jogo e ainda tenho uma quedinha pela Chun-Li, mas me senti na obrigação de pôr os pingos no is. Agora eu entendo porque minha mãe ia me buscar no fliperama me puxando pela orelha de volta pra casa, e agradeço. Imagine se eu tivesse jogado isso tanto, ao ponto de virar um adulto infeliz que ganha a vida escrevendo HTML. Deus me livre.