terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Tchubaruba

Eu completei, no último dia 7, 23 anos. Até agora, tenho me achado jovem (apesar da rabugice), mas ontem aconteceu algo que inverteu totalmente minha perspectiva da vida e me lançou numa masmorra cinzenta e mal iluminada cheia de teias de aranha e dentaduras em copinhos.

Essa menina, a Mallu, tem 15 anos (ou 14). Quando eu tinha 15 anos eu era um nerd bitolado em anime. A Mallu canta, toca e compõe música. Não qualquer música, música boa pra caralho.

Ouve aqui: http://www.myspace.com/mallumagalhaes

Quando ouvi as canções dela, me senti um velho acabado sem talento. Joguei meu violão no sofá, não me sentia mais digno de usá-lo. De algum modo, senti como se estivesse naquelas filas de restaurante por quilo, e de repente a fila vai te empurrando mas a comida que você queria mesmo vai ficando pra trás.

Essa molecada toda que eu vi crescendo e pra quem eu inventava qualquer desculpa pra não deixar jogar bola com os ditos 'grandes' hoje é grande também e já começa a cravar suas presas na carne do mundo. Boa sorte pra eles, e, acima de tudo, pra nós, decrépitos maiores de idade...

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Osso na caveira

Existe o bem e existe o mal, tá. Qual é o bem, qual é o mal, onde um começa e onde o outro termina, isso ninguém sabe, só se sabe que eles estão aí, ainda que no imaginário simplório de algum povo. O caso é que o tempo costuma dar uma soprada nesses contrastes, misturando o preto e o branco, e aí você não sabe qual é qual mesmo.

Porque o tempo é, acima de tudo, um romântico, um amante à moda antiga, do tipo que ainda manda flores. Ele põe nas cenas um colorido caleidoscópio em forma de corações, que pode ser bonito, mas a beleza é em boa parte a arte de distorcer as coisas.

Os piratas, antes mesmo de Jack Sparrow, são um bom exemplo de seres inescrupulosos e nefastos que de repente tornaram-se referencial de coisa cool. Ele pode até ser mau, como o Capitão Gancho, mas nós os amamos mesmo assim (eu amaria qualquer um que quisesse foder com a vida do Peter Pan, na verdade).

A pirataria dos nossos tempos é completamente diferente (não sei quem foi o idiota que pôs esse nome), é uma coisa mais Robin Hood, de tirar dos ricos pra dar para... qualquer um. Músicas, jogos e filmes são os artigos mais populares nos navios-barracas desses piratas sem tapa-olho, papagaio e de sotaque oliental.

Há os que criticam (normalmente os prejudicados), há os que apoiam (normalmente os beneficiados) e há os que estão se lixando, mas compram mesmo assim. O negócio é que a pirataria se apóia em uma lógica genial pra garantir seu sucesso: as pessoas estão ca-gan-do pro tal do próximo, especialmente se ele for uma corporação multinacional que escraviza seus artistas e explora o bolso dos seus clientes. No fundo, nossa vida é uma via de mão única onde a gente só ganha o que quer, não dá nada em troca e ainda tenta correr a estrada na garupa da motoca.

Não que isso esteja errado, calma lá. No cerne da questão da pirataria, não existe o bem e o mal: existem três classes tentando se dar bem às custas das outras. Porcos brigando na lama por um punhado de lavagem. Nesse sentido, a gratuidade da internet revelou-se uma existência superior e divina, deus para uns, diabo para outros.

A pirataria clássica, dos navios e Barbas-Negras, teve um impacto visível e exterior. Revelou o mar como sendo um lugar perigoso e como silhuetas de navio no meio da neblina noturna eram sinal claro pra correr como você nunca correu antes. A pirataria (pós?) moderna, como quase tudo que diga alguma coisa nessa sociedade de tangentes, é uma hemorragia interna, que você só percebe quando começa a ficar roxo. Ela pode tanto te matar e te jogar aos vermes quanto recomeçar o ciclo do zero com idéias novas. Difícil saber.

Se eu apóio a pirataria? Não sei. Mas sabe quando eu vou pagar 250 reais num jogo de Wii?

Passa amanhã.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

O rock errou

É, sem assunto.

Vejo, leio e ouço por aí muita gente dizendo que não existe rock no Brasil, que é tudo uma merda, etc. Considerando-se que pra maior parte da população o rock brasileiro se resume a Charlie Brown Jr, NX Zero e Detonautas, é tentador concordar com os detratores.

Mas, depois de quase gastar de tanto ouvir as MP3 de uma bandinha chamada Lestics (http://www.lestics.com.br/ - vai lá, miserável), me peguei pensando que tem um milhão de coisas muito boas por aí, é só ter a boa vontade de procurar.

E assim, como pessoa muito bacana e sem assunto que sou, resolvi listar 10 músicas brasileiras que você deveria conhecer, se já não conhece (além do Lestics, que a essa altura você já está ouvindo, certo?). E se tiver alguma coisa que você ache que eu deveria conhecer também, os comentários estão a seu dispor.

10- Garota Cor-de-Fogo (Sapatos Bicolores)
Não sei explicar por que essa música é tão legal. Sei que eu gostava, mostrei pros amigos e todos gostaram. É um rockabilly safadão, de topetão de gel e sapatos bicolores (arrá!), pra levantar o peru e chacoalhar os quadris.

Ouva aqui.

9- O Amor Verdadeiro Não Tem Vista Para o Mar (Pullovers)
Sobre como pode haver amor numa cidade claustrofóbica de pedra e dióxido de carbono.

Ouva aqui.

8- Garoa e Solidão (Relespública)
Um pop rock (mais rock que pop) com refrão grudento e letra divertida. Por que essas coisas não tocam no rádio??

Ouva aqui.

7- My Dirty Fingers (Thee Butchers' Orchestra)
Sabe aquele estereótipo de rock 'n' roll encardido, barulhento e onde as ondas de sensualidade transcendem os limites morais? Essa música é tudo isso, mais uma introdução que chega dando uma voadora com os dois pés e te carrega pro fim da música como uma onda no mar (?).

Essa eu não achei em lugar nenhum =(

6- Mesmo Que Mude (Bidê ou Balde)
Uma música avassaladora sobre aquela rebarba que fica entre o fim de um relacionamento e a separação de fato. E acho que isso resume tudo.

Ouva aqui.

5- Ruradélica (Supercordas)
Imagine que você está naquela casinha no campo, sentado debaixo duma árvore, vendo os bichinhos passando. Só que imagine que o sapo é roxo, os vagalumes brilham como holofotes e o canto dos grilos faz eco.

Ouva aqui.

4- Long Plays (Publica)
No fundo desse poço achei algo que vale a pena.

Ouva aqui.

3- Deixe-se Acreditar (Mombojó)
Começa como surf music, vira rock, depois samba, depois rock de novo, e por aí vai. Apesar de eu detestar essas mensagenzinhas positivistas do tipo 'tudo vai dar certo, vamo lá moçada', eu prefiro encarar que o tal 'Reino da Alegria' seja uma pintura bonita com pincéis de rancor e tinta de ironia. Já que tudo pode ser e nada vai acontecer...

Ouva aqui.

2- Into The Ice (Vanguart)
Eu já disse aqui uma caralhada de vezes que sou fanzoca do Vanguart, então escolher uma música só é complicado. Mas Into the Ice é um countryzinho bonito e triste, agitado e sofrido, e que faz um sucesso danado quando eu toco no violão lá em casa.

Ouva aqui.

1- Eu Não Consigo Ser Alegre O Tempo Inteiro (Wander Wildner)
Uma amiga minha disse uma vez que parecia frase de palhacinho triste, quando eu pus essa música no nick do MSN. Mas afinal, o que somos nós senão seres tristes pintados de alegria e sorrisos pro mundo ver?

Ouva aqui.

sábado, 5 de janeiro de 2008

A dois passos dos paraísos

O grande problema do conceito de céu x inferno é que ele é simplório e generalista demais. Basicamente, ele divide toda a humanidade em bons e maus, o que é uma divisão bem ok. O grande pecado, no caso, é que a ramificação pára por aí.

Vamos lá, eu sou uma pessoa boa, então eu morro e vou pro céu, lugar dos bons. Legal, muito bem, vou ter agora uma eternidade de paz ao lado de outras pessoas boas. Bacana, certo?

Não necessariamente. Olha só, eu morri. Eu percorri todo o tortuoso caminho da vida e cheguei aqui, o Eldorado dos pobres, as fontes Lindoya dos mortos de sede. Se tem uma coisa que eu mereço é tranqüilidade, mas como ter esse tipo de sentimento se eu tenho que cohabitar com pessoas, por exemplo, articuladas.

Eu detesto pessoas articuladas, sabe. Aquelas que facilmente se adaptam a qualquer ambiente social, que riem mostrando todos os 32 dentes, têm uma dicção perfeita e não deixam nenhuma sílaba sem o benefício de ser pronunciada. Esse tipo de gente pra mim mereceria arder nos quintos do inferno, mas aparentemente lá não é lugar de gente boa.

Essa divisão planoespacial deveria ser mais ampla, observar mais particularidades que existem na humanidade. Excelente, estamos no céu, somos todos bons, mas por que não separar, por exemplo, os alegres dos tristes, os publicitários dos honestos (publicitário vai pro céu?) e as pessoas que sabem se colocar no seu metro quadrado daquelas que se sentam no banco do ônibus e abrem as pernas igual um compasso?

O grande lance do mundo de hoje é uma coisa chamada especialização. Não basta separar as pessoas entre homens e mulheres, ou entre políticos e apolíticos. O ser humano é muito mais complexo que isso, e o cara que anda com camiseta do Dream Theater não quer ser tratado igual ao que anda de abadá do Camaleão (ambos deveriam ser tratados com golpes de tacape, mas enfim). Se deus e o diabo não reavaliarem seus métodos e perceberem que nem só de zeros e uns se faz o mundo, correm o sério risco de perderem seus domínios geográficos mortais para alguma alma revolucionária que resolva brincar de agente imobiliário do além.

Espero, por fim, que as duas divindades entendam o que eu estou dizendo e avaliem isso. E caso minha luz ilumine as respectivas idéias, na minha vez, por favor, me deixem longe dos fãs de Malhação.