quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Ode ao campeão

Há tempos não se via um campeonato brasileiro tão emocionante. Todo mundo tem chance de Libertadores, todo mundo tá sujeito a cair, a média de público é excelente, todo mundo se diverte.

Menos um.

Sentado em seu canto, só e sem amigos, está aquele que deveria ser o centro das atenções, o objeto de cobiça: o líder. Mas não, ele está solitário, pois assim é o mundo, escurraça àqueles que se atrevem a ser diferentes. Esse líder pecou, sim, pecou. Pecou por ser bom em um país onde impera a mediocridade, pecou por ser organizado onde reina a bagunça, pecou por ter Rogério Ceni em terra de Bruno Otávio. E assim é punido, como foram queimadas as bruxas, como foram sufocados os judeus: pessoas que pagaram o preço de ser diferentes.

Mas esse é o mundo, a festa dos ordinários. Riam, pulem, chorem acolhidos em sua insignificância, pois hoje o líder estará no topo do mundo, sorrindo sua solitária perfeição. E que uma coisa fique aqui bem clara a todos os que lerem essas confusas palavras:

Se o São Paulo não for campeão hoje, esse blog estará fechado até a próxima semana.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

In Rainbows /

Só pra não perder o bonde: a primeira vez que eu ouvi In 'quer-pagar-quanto' Rainbows, o revolucionário disco novo do Radiohead, eu ajoelhei aos prantos e agradeci a deus (eu acredito nele às vezes) por existir um disco tão bom.

Mundão véi sem portêra

Desde a proximidade do fim da faculdade, e percorrendo esse ano todo, ouvi histórias e planos de colegas (amigos, né) que queriam sumir daqui e dar um tempo em outro país. E, um a um, estão mesmo indo - logo nossos amigos secretos não vão mais ser secretos, pois só vai sobrar uma pessoa pra dar presente. E é aquele ritual, sempre que se aproxima a data de partida de um, a gente faz uma despedida no lendário bar do Mineiro. Ontem foi a vez da Bárbara, vizinha de blog, que vai pra Londres - nem grega, nem romana. It makes sense.

Minha turma da faculdade (a palavra 'turma' só é aceitável para um maior de 10 anos se aplicada a esse contexto estudantil) nunca foi muito ligada, unida. Até porque, convenhamos, fica meio ridículo para pessoas adultas andar em blocos de 50 quando não se pode mais fazer fila. É muita desorganização. Mas voltando: a gente nunca foi assim aquele povo unido, mas se gosta, e tal. E como a cada quinzena algum dos nossos resolve partir, temos nos visto com alguma freqüência. Nós somos como aqueles primos que brincaram juntos a infância toda, aí o pai de um deles teve que mudar pro interior a trabalho e agora todo mundo só se junta de novo quando alguém da família morre.

Perdoem a comparação, mas ela funciona, vai.

Enfim, todos estão indo, e logo aquela chata sensação de fim de faculdade de que nos separaríamos vai se tornar geograficamente um fato. Eles dizem que voltam, mas ninguém é a mesma pessoa depois de um ano ou mais convivendo num ambiente completamente diferente (e, principalmente, civilizado), e eu não quero esses impostores, quero meus amigos antigos.

By the way, segue abaixo um texto mais ou menos sobre o assunto que eu escrevi há algum tempo e, que me lembre, não publiquei no blog. Se sim, avisem aí.

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Uma coisa que me fascina na mesma proporção em que me apavora é essa coisa do mochileiro, o mano que põe uma mala nas costas e se aventura mundo adentro, em busca de drogas, ou sexo, ou boas fotos, ou assunto pro seu blog.

Sou grande fã de mochilas, não por menos meu apelido no trampo é 'Mochilinha'. E gosto também da idéia de se perder por lugares desconhecidos sem saber aonde vai estar semana que vem, amanhã, daqui a pouco. Mas ser um viajante nômade requer alguns detalhes importantes, como desenvoltura, coragem e o menor número de frescuras possível. Aí já me fode a vida.

E tem também outro ponto: pra onde ir? De Brasil eu tô sussa, América é muito clichê, Europa é muito chique (onde fica todo o glamour da coisa, do fedor e sofrimento?), Ásia é particularmente assustadora pra quem tem fobia de gente, África é muito quente (e ter fobia de gente não me faz ter vontade de ficar cercado de jaguares) e a Oceania... convenhamos, a Oceania não é nada, uma bostinha, o Distrito Federal do mundo.

Fora as agruras por que se tem que passar, como religiões e políticas malucas, curiosos sobre o Pelé ou bichinhos que podem se instalar no seu cu, ou em outra parte mais nobre do corpo.

O problema é que, como eu disse, eu curto a idéia. Sou apaixonado por road movies, road books, road whatevers, e adoro as histórias que contam pessoas que vivem esse tipo de aventura, porque das duas uma: ou ela realmente viveu aquilo ou tem uma imaginação sensacional, o que também é de se aplaudir. Pode não parecer (aliás, não parece at all) mas eu gosto de contar histórias - só não tenho nenhuma. Sério, se você já passou cinco minutos conversando comigo sabe disso; se já viu o tipo de relatos pessoais que eu conto no blog também.

Acho que, no fundo, o legal da coisa de se embrenhar em todos os lugares onde Judas perdeu seus milhares de pares de botas é poder ter coisas pra contar sobre isso tudo. Pois olhando friamente, a menos que você seja sozinho de tudo e não tenha a que se apegar no seu habitat, mochilar por aí é um sofrimento desgraçado, só compensado pelo prazer de ver seus amigos pagarem um pau pra todas as coisas que se passaram em lugares tão distantes quanto o Sesc Interlagos. Ou a Indonésia, dá na mesma.

Se for pensar bem, o mochileiro é um vovô planejador, daquele que quer ter histórias realmente legais pra contar pros netos (trauma infantil é foda, eu sei), e pra isso arrisca sua sanidade entre culturas não lá muito fascinantes e artesanatos porcos. E, no fim de tudo, o pentelho nem vai te ouvir pois está gastando os dedos no Winning Eleven 30.

E alguém me explique como eu cheguei a esse ponto da conversa.

domingo, 28 de outubro de 2007

Fala baixo

Eu não sou um bom músico - aliás, acho que deveria haver alguma liminar pra me manter a pelo menos 15 sílabas da palavra 'músico' -, mas gosto de maltratar o violão e tal - paguei caro por ele, agora faço o que quiser, that's the law.

De uns tempos pra cá decidi comprar mais um instrumento, pra poder tocar com mais gente, sacomé. Uma guitarra seria a opção mais óbvia, mas um violão elétrico também era uma alternativa bacana - essa ladainha folk não me larga nunca. Bateria nem pensar, porque a) é muito caro; b) faz muito barulho; c) minha mãe arrancaria minha baqueta fora se eu aparecesse com isso em casa.

E não é que lá pelas últimas duas semanas fui tomado de súbito por uma vontade incontrolável de tocar... baixo. Num primeiro momento aquilo foi repugnante, pois - começa agora o momento preconceituoso e a arte de se falar sobre aquilo que não se sabe -, convenhamos, baixo é instrumento de corno.

Repara num show como o baixista parece estar sempre alheio ao que se passa. Enquanto o vocalista se curva e esgoela sobre o microfone, o guitarrista roda pelo chão e o baterista espanca seu instrumento como um gorila, o baixista está lá na dele, mexendo os ombrinhos e, se muito, os quadris, com aquela cara de 'calma, pessoal, está tudo sob controle'.

E o baixista é o cara que não come ninguém. E o instrumento dele não faz barulho e é proporcionalmente feio. E veja bandas lideradas por baixistas, como o Iron Maiden e o Rush - podem ser ótimas bandas, mas ninguém liga. E se baixo fosse bom, o Thee Butchers' Orchestra teria um.

Mas de algum modo, após quase furar o primeiro do Stone Roses de tanto ouvir (tá, era mp3, mas vale a metáfora), me convenci de que queria tocar baixo. Fodam-se o Steve Harris, o Geddy Lee e o Roger Waters - ainda temos o Gene Simmons, o Flea, o Paul McCartney! E o Sting, o Brian Wilson, o Paul Simonon, o Lemmy Kilmister, o John Paul Jones, o Sid Vicious (ahn... é), o Nick Olivieri.

Certo, agora eu quero ser baixista. Sou um corno conformado, escuto a voz do coração. E depois, sobre aquilo de o baixista não comer ninguém, é até um peso a menos sobre meus ombros: imagine que guitarrista vergonhoso eu seria.

Update: Alguns vídeos de linhas de baixo divertidas pra fazer a alegria da criançada:





sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Alô alô Realengo - aquele abraço!

Duas coisas que eu tinha vontade de fazer eram viajar de avião e visitar o Rio de Janeiro. Porque, imaginava eu, que voar - ainda que em uma baleia de metal - era uma das sensações mais gostosas que se pode ter, e que o Rio, apesar dos pesares, era uma cidade lindona.

Ontem, a trabalho, fui pro Rio de avião. Fui no transporte mais seguro do mundo para a cidade mais perigosa do mundo.

Brincadeira, estou exagerando. Deve haver algum transporte mais seguro.

Sabe quando dizem na TV sobre o tal do Caos Aéreo, da bagunça nos aeroportos, do atraso nos vôos? É tudo verdade. E três horas depois do horário previsto, lá vou eu (cantando mentalmente '30000 pés', do Pato Fu) universo acima.

1ª constatação: não tem nada de mais voar nessa merda. Que bobagem.

O serviço é excelente. Após 3 horas de espera, somos brindados com 2 cream-cracker e um copinho de refrigerante quente. Mas a visão da aeromoça tornou tudo mais, ahn, confortável.

Cheguei no Rio e só o que se via era chuva e o céu cinzento. Por um minuto achei que o piloto, pilantrinha, deu meia-volta e aterrissou em São Paulo. Mas falo mais sobre essas semelhanças mais pra frente.

Os cariocas em geral são muito gente boa (descobri isso no decorrer do dia), mas por alguma razão astral o taxista que nos levou até o hotel era um maníaco, uma mistura de Joel Santana com Travis Bickle (vocês assistiram Taxi Driver, né?), que ficava cantando, resmungando, falando mal do governo, da criminalidade, da polícia e do sistema tributário, tudo isso entre um ruído esquisito e outro.

2ª constatação: cidade maravilhosa my ass. Vá distante 50 metros do mar e você terá São Paulo, com a mesma arquitetura, os mesmos bairros e a mesma sujeira (ponto negativo: eles têm outdoors). Coloquem um punhado de areia e água no final da Paulista e um jesus de braços abertos no prédio da Gazeta e ficamos rigorosamente iguais.

Vôo de volta, atraso de 4 horas, mais o detalhe que a barca ia descer em Guarulhos - fora que ela já não saiu do aeroporto que era pra sair.

E foi assim o dia mais feliz da minha vida.

domingo, 21 de outubro de 2007

The way to the future

A gente tem essa paixão forte por ficção científica, né. As máquinas, a tecnologia avançada, as estratégias, os seres de planetas desconhecidos, tudo isso habita nossa imaginação e nossa esperança de no futuro o mundo ser um lugar menos entediante. Embora a visão de futuro dos ficcionistas seja sempre pessimista, de um mundo vivendo após algum colapso que parece ser a previsão mais acertada no meio daquilo tudo. De Blade Runner a Akira, de Matrix a Laranja Mecânica, de Megaman a Do The Evolution: o futuro é sombrio, triste, macabro.

Hoje o que a gente possui de mais próximo a essa cultura das máquinas é a Fórmula 1. Tecnologia de ponta, máquinas ganhando mais destaque que humanos, a atmosfera de batalha, a fumaça, os macacões de 25000 dólares.

Só destacando, caso não tenha recebido a devida importância no meio do parágrafo acima: aquele macacão custa VINTECINCOMILDÓLAR!!! Ele é autosuficiente e tal, você pode fazer suas necessidades lá dentro, mas duvido que alguém reutilize o mesmo macacão depois de ter lhe dado uma bela mijada.

Esse final de semana o circo está na cidade, e em final de temporada, então as atenções, mais do que nunca (excetuando-se, ahn, os últimos anos em que o campeonato finalizou-se aqui também) estão voltadas pra nosso modesto espetáculo sci-fi.

Abre parênteses: acredita que só agora, nesse segundo, eu entendi por que aquele jogo de corrida futurista da Nintendo se chama F-Zero? Fecha parênteses.

Eu não gosto de Fórmula 1, não gosto de automobilismo at all, nem gosto de carro. Mas não é implicância minha pensar que se continuarmos com essa prática perigosa nosso futuro será sombrio, triste e macabro, é?

O dia em que uma McLaren engolir um piloto e transformar-se num máquina autosuficiente a gente conversa.

Update: como o universo é um complexo mecanismo que se move pra me contradizer, a corrida foi sensacional. Mas é uma em um milhão.

Update 2 (23/10): mais uma coisa clássica nas histórias futuristas (especialmente as dos anos 80) : http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u338956.shtml
O pior é ler a matéria e tentar não rir. Patético...

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Pardon me

Já fazia um belo tempo que eu não ia a um show, então ontem fui ao Citibank Hall, antigo Cie Music Hall, mais antigo Directv Music Hall, quase pré-histórico Palace, pra ver a apresentação do Incubus, a banda californiana que faz a alegria da garotada.

A coisa funciona assim: eu não sou um fã, nem acho uma banda ótima, mas tenho a maior boa vontade. A família gosta, tem umas músicas legais, são bacanas de tocar. Se você separar as músicas legais, dá pra ouvir numa boa por algumas horas. E os caras são bons músicos, o vocalista tem uma voz legal e tal, embora os atributos mais famosos dele sejam físicos, o que me faz pensar o que é que a mulherada tanto vê naquele frango testudo. Whatever.

Mas aí o show começou e eu me dei conta de que já não tenho mais idade pra essas coisas. Colaboraram pra isso:

- o fato de todo mundo ao meu redor ser homem e com alguma séria disfunção nas glândulas sudoríparas;
- lembra que eu falei sobre separar as músicas que eu gosto e tal? Eles tocaram todas as outras;
- o lugar é fechado, apertado, quente e sempre tem uns filadaputa que resolvem fumar lá dentro;
- a música de encerramento, ah, a música de encerramento.

O negócio é que o Incubus é uma ótima banda de nu-metal, mas uma banda de rock 'n' roll bem meia-boca. É banda de moleque, you know, e por mais que em alguns momentos eles nos brindem com canções brilhantes, logo em seguida voltam à barulheira juvenil, pra não perder o pé no berço. O saldo final é positivo, mas por pouco.

Mas como eu sou legal, separei uma das bacanas deles. Enjoy.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Upon this tidal wave of young blood

O Clap Your Hands Say Yeah é uma das minhas bandas relativamente novas favoritas, e eu até tenho um post sobre ele mais ou menos pronto pra pôr aí qualquer dia desses.

Mas resolvi mostrar esse videozinho aqui, gravado num show em Dublin, terra do Bono e agora do Hugão, que a qualidade não é lá grandes coisas, e quem não conhece a música vai achar uma merda (ela já é esquisita na versão normal), mas a interação da platéia é absurda, vale a vida.

Mas é, pra quem não conhece a música não vai ter graça de qualquer modo.

sábado, 6 de outubro de 2007

Game over

Não sei se a data é bem essa, mas dia 10 de outubro, quarta-feira agora, meu PlayStation faz 10 anos de aquisição.

Que tipo de imbecil marca data de compra de um videogame?

Não eu, por isso disse que não sei se a data é bem essa ¬¬

Lembro bem do dia em que fomos na loja, minha mãe, meu irmão e eu. Era uma galeriazinha na Lapa, e a loja existe até hoje. Pagamos 3 prestações de 110 reais e levamos aquele paralelepípedo cinza horroroso, com um controle e três jogos que não merecem ser citados.

E aí o tempo voa, sacomé, e fazem 10 anos que eu comprei meu último videogame (o Game Boy não é um videogame, é uma calculadora que, ao invés de números, mostra o Mario pulando). Não sei se você pensa assim também, mas se faz 10 anos que a pessoa comprou seu último videogame, das duas uma: ou ela está ficando velha, ou morreu. Sexta-feira uma moça nova no trabalho disse que eu tinha cara de 18 anos, o que tira a possibilidade de eu estar ficando velho. E isso faz de mim um cadáver.

Tenho pelo menos um continue?