domingo, 29 de julho de 2007

Pan pan pan

Sou bem ranzinza às vezes, admito. E pego demais em alguns pés, caso desses Jogos Panamericanos. Achava um absurdo tanta gente perdendo seu tempo com um evento tão meia-boca, e agradecia aos céus haver chegado finalmente o dia do encerramento.

E então não é que, do alto da minha prepotência, me pego num domingo de manhã (eu acordado num domingo de manhã, veja como as coisas mudam) sentado no sofá acompanhando de olho colado na tela à final do basquete, entre Brasil e Puerto Rico (adoro falar assim).

Minha implicância com o Pan nunca foi social, filha do argumento padrão de que se esquece da miséria do país pra se concentrar em uma bando de gente jogando alguma coisa, mesmo porque acho isso uma balela sem tamanho (como diria Arnaldo Branco, o problema dessas pessoas que reclamam da atenção que se dá a esses jogos é que elas pensam que os falsos patriotas são os outros). Eu acho que é uma alienação esportiva mesmo, e tenho medo de pensar que o suposto bom desempenho do Brasil nos jogos dê a nós mesmos a impressão de que está tudo bem, que a prática de esporte no nosso país vai de vento em popa. A situação do esporte amador no Brasil é deplorável, os atletas não têm incentivo, patrocínio, infra-estrutura, nada. E não me venha dizer que o Pan pode ter aberto os olhos das nossas autoridades para a importância que se deve dar a esses atletas anônimos que se elevaram ao mais alto patamar da prática esportiva nas Américas (há controvérsias, mas oficialmente vá lá), porque isso não vai acontecer, nossas autoridades estão cagando pra Diogo Silva, pra Marta, pra Thiago Pereira. Ouvimos essa história há anos, após cada final de Olímpiada em que Vanderleis Cordeiros de Limas fazem de suas canelas finas a capa com que os heróis ostentam seu valor, e nada acontece, nunca.

Adoraria estar errado, adoraria ver o Brasil se transformar em uma potência esportiva como é os Estados Unidos, como tem sido a China, como foi a União Soviética. Estamos cheios de exemplos que garotos que se salvam pelo esporte, e nosso país é um lugar onde muitos garotos precisam ser salvos. Mas que o Panamericano não seja uma medalha pra pendurarmos nos pescoço, e sim uma bengala pra nos ajudar a caminhar em direção a um lugar melhor pra todos.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Road trippin'

Quando eu era criança, nem sonhava em voar de avião. Primeiro porque achava que era coisa de rico. Segundo porque tinha medo de altura - o que não chega a ser uma surpresa se considerarmos que eu tenho medo de quase tudo (embora altura seja algo que não me incomode mais). Hoje a possibilidade já não me parece tão desagradável, mas eu continuo virgem de altitude.

Até gostaria de dar uma voltinha num treco desses, mas confesso que a idéia não me deixa tão empolgado. Eu gosto de viajar, sabe, mas não pra conhecer lugares e etc, eu gosto mesmo é da viagem, do trajeto que se faz entre a sua casa e onde você quer chegar. Gosto de curtir a estrada, ver a paisagem se desenrolando ao redor, descobrir coisas do mundo que eu nem imaginava que existia, acostumado a essa redoma de asfalto e dióxido de carbono.

Eu curto mesmo viajar de ônibus, nem de carro eu sou fã. E a idéia do avião, embora muito prática, elimina dois aspectos importantes da coisa toda: a sensação de que se está sendo envolvido pelo cenário, uma vez que a paisagem se baseia a céu acima e terra abaixo; e o negócio do tempo, de você sentir que está indo pra um lugar longe, que está atravessando fronteiras desconhecidas, e, claro, de aproveitar mesmo a viagem. De avião eu vou ao outro lado do mundo no mesmo tempo em que de ônibus eu vou daqui a Minas.

Outra coisa que eu queria experimentar, e já disse em algum post no pé-na-cova fotolog, é viajar de trem. No Brasil você não encontra trens de passageiro que vão muito longe (ok, Francisco Morato é longe, mas estou falando num plano mais amplo), coisa que se acha bastante na Europa, US and A, Japão e etc. Trem é uma coisa muito velho-oeste, e, caso não tenha sido possível deduzir pelos parágrafos acima, eu adoro me sentir em uma aventura =P

Mas esse parágrafo do trem é irrelevante, eu falava do avião. Por esses dias ouvi muita gente falar que tem medo de voar de avião agora, por causa desse acidente, e por aí vai. Do ano passado pra cá, só me lembro de ter ouvido falar de dois acidentes com vítimas, aquele da Gol e esse da TAM. Mas de carro, moto e ônibus ouve-se falar diariamente de vários, fora os que você não ouve falar, mas vê com seus próprios olhos. E nesse momento eu acabo de perceber que isso não tem nada a ver com o resto do texto. Então vou encerrar por aqui, pra não ficar pior pra mim.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Eles não usam black-tie

Um dos grandes indícios de que a sociedade às vezes é retrógrada demais em coisas simples é o uso de roupa social. Se você andar na avenida Paulista, por exemplo, em um dia útil, vai ver que a esmagadora maioria das pessoas se traja socialmente, afinal estão em horário de serviço.

É incrível como a gente avança em tantos pontos como tecnologia, cura de doenças e consciência sobre o meio ambiente e simplesmente se recusa a admitir que conforto é importante. Roupa social é o tipo de coisa que se usava há decadas, séculos atrás, quando ainda não haviam inventado a camiseta e o tênis. Camisa, gravata, sapato, salto, terno, são coisas difíceis de usar, desengonçadas, pesadas e desconfortáveis. As pessoas já estão perdendo metade de seus dias em escritórios, porque tornar tudo ainda mais insuportável?

O que me parece é que é um tipo de tradição que a gente não pode tocar. Prova disso é a invenção de um negócio chamado sapatênis, que é, supostamente, um sapato com leve aparência de tênis. Nada, aquilo é tênis puro, mas a gente chama de sapatênis pra parecer que é sapato, e se é sapato, pode usar com roupa social. Quem estamos querendo enganar? Por quanto tempo ainda vamos admitir esse cabresto que controla nossas vidas? Já quebramos tantas convenções e tradições, hoje usamos camisinha, trepamos sem casar, nos divorciamos, não apanhamos mais dos professores na sala de aula, as mulheres votam e trabalham, os negros estudam e os japoneses podem ser encontrados longe das feiras e das barracas de pastel. Mesmo já tendo passado por tudo isso, ainda nos vestimos como no século 19.

E olha, desculpa dizer, mas o mundo tá acabando, ou a gente começa a ir trabalhar de bermuda e chinelo ou o aquecimento global nos consome.

Ou teria sido o ar-condicionado inventado só pra evitar que morrêssemos de calor e nos rebelássemos? Hum, boa pergunta...

Em tempo: eu me visto de tênis e calça jeans no trabalho, mas às vezes posso sentir os olhares atravessados. Eu sei que estão olhando, eu sei...

terça-feira, 24 de julho de 2007

É ouro...

Dois posts num dia, que coisa.

Mas esse é rápido. Eu bato muito na mesma tecla, sabe como é, e ainda não tinha dito abertamente o quanto eu detesto esse Panamericano. Que perda de tempo miserável. Então eu li esse texto aqui, coluna de domingo do Juca Kfouri na Folha de São Paulo, e resolvi compartilhar com vocês. Não é só sobre o Pan, é sobre tudo, e vale muito a pena ser lido. Separe um tempo aí, pare de assistir o tiro ao alvo ou qualquer coisa assim e se dê esse banho de realidade.

Relaxa, top top top, e goza. É ouro!

Impressiona como o país cada vez mais se acostuma a fingir e a viver, e a morrer, das próprias mentiras

Por Juca Kfouri

PEGUE-SE QUALQUER exemplo, mas fiquemos com os mais recentes.

No esporte, para começar.

O milésimo de Romário é um bom caso.

O Pan-2007, outro.

Ora, todos sabemos que o Baixinho, fabuloso, maior jogador que uma grande área já viu, criou um objetivo para ele mesmo e todos entraram na festa. Viva!

Mentira inofensiva. Mas mentira. Mentirinha, digamos.

Com o Pan é mais grave, pelo uso do dinheiro público sem a menor cerimônia, um dinheiro que os passageiros que cruzam o país pelos ares agradeceriam se o vissem mais bem gasto.

E aí a falsidade é grave, porque mata.

Em torno do Pan, a omissão é medalha de diamantes.

Thiago Pereira, que é um nadador digno de todo respeito e não tem a menor culpa do que se omite, é tratado como quem superou Mark Spitz.

E, friamente, é verdade.

Mas meia verdade, muitas vezes pior que a mentira pura, por mais difícil de ser desmascarada.

Ora, Spitz, ao ganhar cinco ouros no Pan de Winnipeg, em 1967, simplesmente bateu três recordes mundiais, como bateu outros sete ao ganhar mais sete medalhas de ouro em Munique, nos Jogos Olímpicos de 1972.

Compará-lo a Pereira não honra nenhum dos dois.

Fiquemos por aqui, para falar do que é mais chocante, porque sempre com a cumplicidade da mídia.

A tragédia da TAM, que obscureceu o Pan, é rica em ensinamentos.

Começou não é de hoje, com o escândalo do Sivam, no governo anterior, e continuou impávida e colossal de lá para cá.

Uma frase debochada e ultrajante da ministra do Turismo, um gesto raivoso e moralmente pornográfico do assessor presidencial, um pronunciamento vazio e perplexo do presidente que nunca havia visto uma sucessão de acontecimentos tão caóticos nos aeroportos nacionais e pronto!

Tudo continua como antes, a não ser, é claro, para quem morreu e para quem ficou por aqui, na saudade.

Ora, nem Romário é um artilheiro comparável a Pelé nem Pereira é o novo Spitz nem este governo é mais ou menos culpado que o anterior.

Somos todos responsáveis, ou quase todos, que continuamos a voar como voamos, a votar como votamos, a festejar como festejamos e a reclamar mais dos que são rigorosos do que daqueles que são complacentes.

Dar ao Pan-2007 sua verdadeira dimensão é, para muitos, sintoma ou de bairrismo ou de mau humor.

E a crise aérea vira exploração política.

Mas o que se vê na TV no Pan, e o que se viu e ainda se verá na TV sobre o avião da TAM, é de dar vergonha de como se faz jornalismo/sensacionalismo no Brasil.

O ufanismo sem limites e a demagogia sentimentalóide não nos levarão a lugar algum, a não ser neste em que estamos, do caos, da falta de perspectiva e da acomodação cúmplice e criminosa.

Os resultados superdimensionados do Pan-2007 inevitavelmente se transformarão em frustração quando Pequim chegar, no ano que vem.

Ou alguém acredita mesmo que o Brasil superou o Canadá, que é mais saudável e pratica mais esporte que o país norte-americano?

Brasileiro com muito orgulho?

Quadro de medalhas: 200 mortos.


O blog do Juca é esse aqui.

Pra boi dormir

Oi, meu nome é Thiago.

'Oi, Thiago!'

Vou lhes contar minha história.

Eu tinha pra mim alguns valores que, na prática, às vezes não se aplicavam. Por exemplo, sempre tentei fazer as coisas para os outros não de acordo com o que faziam por mim, mas pelo que eu achava certo. Mas depois de muito tempo segurando minha mochilona no aperto vertical do ônibus, sem um filho da mãe pra se oferecer pra segurar, comecei a ignorar também os bolsistas quando estava sentado. Podia esfregar a sacola na minha cara, fingir que tava se esquivando de alguém no corredor e praticamente colocar ela no meu colo, mas de jeito nenhum eu segurava, tava nem aí (claro que havia exceções, às vezes a carne é fraca).

Mas hoje eu posso me orgulhar e dizer que sou uma pessoa mudada, uma pessoa melhor. Seguro a bolsa de quem está próximo, mulher ou homem, bonita ou feia, levanto pros velhinhos sentarem, e pras crianças também (não está no adesivo, mas lembra quando você era uma pessoinha e precisava ficar duas horas de pé no ônibus? Criança não tem estrutura pra agüentar isso, é maldade). Dou dinheiro trocado pro cobrador, deixo as pessoas entrarem na minha frente, dou bom dia ao motorista e presto atenção em todos os ônibus no caminho pra poder informar pra quem me perguntar depois.

E eu posso dizer a vocês, com a mão no coração, que é muito bom fazer o bem. Um incrível sentimento de paz lava o interior, e os dias cinzentos desse inverno chuvoso ganham um pouco de cor, graças a bla bla bla, bla bla. Bla bla bla bla, bla bla, bla bla: bla bla bla bla.

domingo, 22 de julho de 2007

I-bop

Nos meus tempos de moleque, o melhor jeito de registrar o quanto uma pessoa era popular era quando o coitado se estrepava e quebrava algum osso. O fraturado costumava ser o centro das atenções, com seu gesso cheio de 'testimonials' gravados em bic ou pincel atômico (pincel atômico é o clássico exemplo de algo que não é nada daquilo que o nome sugere).

Hoje tem por aí nosso famoso amigo Orkut, que é o novo índice de popularidade das pessoas, e que não exige fratura ou luxação, só que você exponha sua vida medíocre e desinteressante para o Brasil inteiro.

O Orkut é o gesso moderno. Quando você quebra e engessa o braço, arruma um atestado e não vai trabalhar. Quando você acessa o Orkut, automaticamente não está trabalhando (a menos que seu trabalho seja escarafunchar perfis alheios ou metralhar scraps do tipo 'oi-ta-sumido-bjos'). Quando você quebra a perna, não pode jogar bola nem correr no parque. Quando você está no Orkut, os únicos jogos do qual faz parte são 'pega-ou-não-pega-a-pessoa-acima'. Usar gesso é um saco, usar o Orkut, bem, deduzam.

Se tem uma coisa da qual nunca escondi aversão é esse jogo de egos no qual nosso mundinho se transformou. É uma questão pura e simples de espaço: não cabe tanto umbigo assim num planetinha só - talvez em Júpiter, mas eu não quero ir pra lá depois que vi 2001. Uma biblioteca só suporta aquela quantidade imensa de volumes porque eles estão fechados, ladeados e organizados em prateleiras. Imagine só se cada um deles fosse um livro aberto.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Sensacional

Um dia tem o Panamericano, um troço que celebra a saúde, a vida plena, e toda a atenção da mídia está lá. No dia seguinte, um avião se espatifa contra um prédio e tome a mídia mudar de vedete, a dama da morte, sempre estrela das atenções.

Não sei que tipo de paixão mórbida a gente tem pela morte, mas ela é forte. Basta um carro se enfiar debaixo de um ônibus e um coitado ficar com a cabeça suando sangue e tem lá uma dezena de pessoas que simplesmente abandona suas tarefas - que não quiseram abandonar pra levar a tia doente ao hospital - pra assistir o pobre agonizar até a morte entre cacos de vidro e bombeiros.

Quanto mais mortos, melhor. O 11 de setembro, o Katrina e o Tsunami são alguns dos clássicos recentes da pauta cotidiana do mundo. E repare que a gente sempre gosta mais quando é algo espontâneo, como um acidente ou uma ação terrorista isolada. Guerra, bandidagem, isso tudo não é tão legal, porque as mortes estão sempre no script. Falando em script, a criatividade no desenvolvimento do plot é importante: uma cratera numa construção de metrô é algo que não se vê sempre por aí.

Na moral, eu não agüento mais essa porra desse avião. Todo dia alguém levanta uma dúzia de irregularidades e hipóteses que poderiam ter causado o acidente, e teoria conspiratória é coisa de criança que brinca de gangue. Ok, foi uma catástrofe, as causas precisam ser apuradas, as vítimas adjacentes indenizadas e tudo precisa servir de aprendizado pra que isso nunca mais ocorra, mas ficar voando sobre o assunto como um bando de urubus sobre a carne fresca é deprimente, e um belo retrato desse nosso mundo em que a exclamação vale mais que o alfabeto inteiro.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

O importante é competir

Essa overdose involuntária de Pan acaba lançando luz a uma série de esportes dos quais a gente nem se lembrava que existia, o que põe de volta em pauta uma discussão que eu costumo ter comigo mesmo de quatro em quatro anos, aproximadamente: quais os critérios pra dizer se algo é esporte?

Tipo hipismo. Que diabo é aquilo? Se um cavalo pulando barreiras é esporte, aquelas competições caninas em que os bichos correm por dentro de tubos é esporte também, e o circo é um ginásio, com seus elefantes, leões e ursos fazendo todo tipo de papagaiada. Hipismo é tão não-esporte que os cavaleiros não sabem nem se trajar como atletas - no pódio eles estão mais elegantes até que quem entrega as medalhas.

E xadrez? Gosto de xadrez, acho um jogo bem divertido, mas se aquilo é esporte, Banco Imobiliário também é.

Tem esporte que até é esporte, mas é difícil de entender. Como o boxe. Desde que inventaram o diálogo, ver dois caras se esmurrando até um deles cair sangrando no chão não faz mais sentido. Eu sei que esporte às vezes não tem muita conexão com a vida real, mas eu não consigo entender de que maneira isso pode ajudar no desenvolvimento do ser humano, que é, dizem, o propósito da coisa.

Agora, o esporte mais ridículo de todos, sem dúvida, e com quilômetros de vantagem sobre o segundo colocado, é a marcha atlética. Qual o propósito daquilo? Apostar quem caminha mais rápido? Quem rebola mais? Quem teve a mãe mais relapsa? É ridículo, e qualquer um que mostre não ter nenhum senso crítico ao se propor a esse tipo de coisa não mereceria ser chamado de atleta. Às vezes eu penso que eles sabem o quão patético aquilo é e ficam rindo da gente quando ninguém tá vendo. E eu não ligo, sério. Prefiro que riam de mim do que acreditar que a humanidade chegou a esse ponto.

domingo, 15 de julho de 2007

Cu de ferro

Num post do João em que ele sem-vergonhamente expõe sua nerdeza eu comentei que na minha escola meninos assim apanhavam. Pois bem, eu era um menino assim.

Já cansei de dizer que não me orgulho da minha juventude, e bem, tá aí por que. E não era só pelas notas altas, porque eu sequer era um cara muito esforçado - eu era bom mesmo. Mas naquela época eu jogava xadrez no intervalo, disputava olimpíadas de matemática e jogava de caneleira no campeonato interclasses (e fui o vice-artilheiro, a caneleira era mágica). Primo que estudou na mesma escola depois de eu ter partido pro negro período da pós-puberdade disse que tinha professor que ainda falava de mim na aula (o que eu acho que é mentira, mas enfim).

Agora, um segredo que eu nunca contei pra ninguém: eu sou bem cagão, sempre fui, né. Quando entrei na tal escola, onde fiquei da primeira à oitava (ou, segundo os padrões atuais, do segundo ao nono), eu morria de medo de ter a atenção chamada na frente de todo mundo. Solução pra isso: fazer tudo que a professora mandava. Sim, é ridículo, mas o que girou o moinho da minha bem-sucedida carreira primario-ginasial não foi a vontade de aprender, e sim o medo de levar carcada. O problema é que, nessa de ser um bom aluno, eu não treinei muito em ser uma boa pessoa, então sempre fui bem sem-noção, fazendo comentários inapropriados, piadinhas descabidas e intervenções constrangedoras. E exatamente por essa falta de tato ao me expressar eu levei algumas das maiores comidas de rabo da vida. Que adianta tirar 10 em geometria se não sabe que é errado remedar o colega que anda mancando?

Não sou um grande fã da violência física, mas às vezes acho que algumas boas surras poderiam ter tornado as coisas diferentes.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Só pra garantir esse refrão

Tenho andado cansado. Cansado fisicamente, porque ainda não me adaptei ao fuso-horário da vida de CLT, e também porque tenho andado uma barbaridade (não porque caminhar seja bom, mas sim porque eu sou burro e minha jumentice se mede pela quilometragem); e cansado mentalmente, porque meu cérebro não é exatamente um atleta.

Tão cansado que tentei escrever aqui várias vezes durante essa semana, e não saiu nada. Mas, como hoje é o dia internacional do rock (há 22 anos atrás aconteceu o Live Aid, pai do Live 8, que rolou em 2005), vou deixar aí um videozinho pra você ir passando o tempo.



(A parte em que a mulherada começa a cantar 'my life shines oooooon' até hoje me arrepia todo =P)

segunda-feira, 9 de julho de 2007

No fundo desse poço achei algo que vale a pena

Sabe que pela primeira vez comecei a olhar a vida por outro ângulo e gostar dela?

Que coisa, hein?

domingo, 8 de julho de 2007

Demônica de grupo

Agora que deixei essa vida de desempregado fedorento para trás, fico ponderando sobre o quão irracionais são os processos de seleção de funcionários.

Todo chefe quer no seu moquifo um robô programado para saber sobre tudo o que acontece no mundo e em seu mercado particular, que seja obediente e manso, e que aceite trabalhar por migalha. Até aí, tudo bem, querer não faz mal a ninguém. O caso é que esse tipo de utopia é realmente levada a sério, e cada vez mais a população economicamente ativa (a.k.a. pobres infelizes) desse planeta precisa estar a par de mais e mais coisas pra ver sua vida ser desperdiçada atrás de uma mesa com duas gavetas pra receber por isso uma quantia irrisória.

Sério, pensa bem: o trabalho não é um dos deveres de uma pessoa, tipo jogar o lixo na rua e ser educado com o próximo. O trabalho é parte do ciclo vital: você nasce, cresce, trabalha e morre. Sendo assim, o salário que você ganha paga o tempo que você está perdendo da sua vida?

Mas voltando ao processo de seleção. Imaginemos que música fosse uma profissão de escritório, em que você passa por entrevista e tudo o mais. Em tempos passados, Bob Dylan foi considerado o pior cantor do mundo. E não é gracinha, ouça ele cantando e concorde. Só que, a despeito da sua voz de pato, ele é um puta compositor, talvez - veja a ironia - o maior letrista do mundo.

Numa entrevista, se ele estivesse competindo com Jon Bon Jovi, por exemplo, que canta relativamente bem e faz letras mais-ou-menos, provavelmente o bonitão ia levar, pois faz as duas coisas. Mas, olhando friamente, trocar o Bob Dylan pelo Jon Bon Jovi deveria ser crime previsto em lei.

E tem aqueles testes psicológicos, em que você risca pauzinhos, escolhe qual triângulo completa o quadrado e diz qual animal você seria, se não fosse um verme. Eu nunca entendi como isso pode dizer quanto uma pessoa é eficiente no serviço. Tartarugas não carregam caixas, leões não sobem em motos, elefantes não sabem usar um mouse!

A sociedade é muito segregadora, e desempregados são sua casta mais baixa. Todo mundo gosta de ver um coitado se humilhando pra conseguir tirar 600 reais por mês sem convênio médico. Tá legal, faça da sua sala de reuniões um circo, mas depois não vá reclamar que a mulher barbada não passou o fax de manhã. A culpa é sua.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Um mais um

Lembra que eu disse sobre o número 4 rondar uma certa data da minha vida, e que, por menos que eu acredite nisso, era um número sem graça padaná? Outro exemplo.

Passei 11 meses no meu primeiro emprego. De lá, fui direto pro segundo, de onde fui demitido 11 meses depois. 11 meses de desespero e mendicância, cá estou eu de emprego novo. Assim, tudo muito exato, 11 meses exatos. Já começa a bater a tristeza: aonde estarei daqui a 12 meses?

Sabe quando você fica muito bitolado em algo, e esse algo começa a orbitar as coisas da sua vida? Fico pensando se eu não joguei Winning Eleven demais na minha mocidade...

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Se o Cristo não for uma boa maravilha, nunca mais votem em mim

Estava eu fazendo qualquer coisa quando me deparei na TV com o tal Alemão (prova irrefutável de que méritos não são requisitos para ser um milionário) fazendo campanha pra votarem na estátua do Cristo Redentor para uma das 7 maravilhas do mundo atual.

Um ligeiro recorte histórico pra vocês:

O rei Nabucodonosor, num exemplo de cavalheirismo que, thanks god, não virou moda, vendo a pobre mulher sentir saudades das paisagens verdejantes e montanhosas a que estava acostumada em sua terra Medes, mandou construir no árido terreno da Babilônia uma montanha (!), através da superposição de montanhas artificiais (formando degraus, se é que dá pra chamar assim), com um jardinzão bonito em cima. Isso tipo a uns seis séculos antes do Cristo (não a maravilha, o de osso e alguma carne) nascer.

As pirâmides do Egito, como se sabe (não é possível que você tenha cabulado todas as aulas de história, vai), eram construções tumulares, pra abrigar o corpo mumificado de algum Faraó. As três pirâmides mais famosas, Quéfren, Quéops e Miquerinos, foram justamente as maiores, e eram de uma perfeição matemática absurda, especialmente se considerarmos que fizeram isso a 4 milênios e meio atrás, tempo em que se pensava que a Terra era plana - e mesmo assim fizeram as pirâmides perpendicularmente ao eixo do planeta, tudo muito certinho, uma beleza. Hoje elas entortaram um pouco, mas porra!, elas ainda estão lá!

Certo, voltando agora. Se a gente pensar que esses dois aí em cima são maravilhas do mundo antigo, considerar o Cristo Redentor para o mesmo emprego é uma piada. Inclusive se formos ver que estão concorrendo com nossa magnífica estátua de cimento construções realmente maravilhosas, como Machu Picchu e as Muralhas da China (nesse caso, pensemos na magnitude, não no acabamento). Seria como achar que Pac-Man é o melhor jogo de todos, entende? É até legal, e tal, mas estamos falando de uma categoria que também inclui Final Fantasies, Zeldas e, não-querendo-humilhar-mas-já-humilhando, Winning Elevens.

O povo brasileiro (e eu detesto falar assim do 'povo brasileiro', parece faniquito de classe média), com o indispensável apoio da rede Globo, tem esse fetiche por se empenhar em coisas tão importantes para a vida de todos quanto a micose que está comendo a unha do meu dedão do pé. Vamos lá, gente, qual é a desse Cristo? Ele fica lá, de braços abertos, mas até aí é o jeito como ele aparece em 90% das imagens - só que dessa vez sem a cruz atrás, um deslize artístico imperdoável. Quem ele protege? Pode ver que as tomadas que mostram dele 'abraçando' o Rio são feitas sempre de dia, pois de noite conseguiríamos ver os rastros de bala rasgando o céu. Aliás, pensando assim, talvez a única coisa que o Cristo tenha em seu favor é justamente esse aspecto divino: deve ser um milagre, com tanta bala se perdendo e acertando criança mirrada de seis anos, ele com aquele corpão nunca tenha levado um tiro. Mas essa é a lei da selva, e não faz dele uma maravilha.

Post repostado porque um pau no cu deixou um comentário malicioso, se é que vocês não me entendem. Bá, sei que cê comentou e tal, mas ele se perdeu =P
Ah, e por causa do bocó, pra comentar vai ter que fazer uma autenticação rápida. Desculpaê.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Marinheiro Popeye x Olívia Palito

Que existem milhões de diferenças entre homens e mulheres, em todos os aspectos, novidade não é. Mas essas discrepâncias podem ser vistas bem claramente quando expomos os dois lados ao mesmo denominador.

Por exemplo: a palavra 'forte'. Se dizemos que um homem é forte, imaginamos uma cara enorme, musculoso e com veias saltando pra fora do corpo. O homem forte é forte fisicamente. Já a mulher não, é forte espiritualmente: se você ouve falar de uma mulher forte, costuma ser aquela desgraçada que apanhava do marido e que teve a cara enfiada numa frigideira com óleo fervendo pelo filho da puta.

Enquanto o cara forte tem o sex-appeal padrão do gênero masculino, a mulher forte é alguém conhecida por só se foder a vida inteira, e geralmente apresentar alguma deformidade, o que dificilmente vai lhe render um marido ou algo assim. Resumidamente, o homem forte vai ter mulheres e uma vida de sexo fácil e respeito forçado, enquanto a mulher forte vai passar o resto da vida chorando pelos cantos enquanto o filho dela cresce, vai pra faculdade e a abandona. Mas no final das contas, ela é forte e vai arrumar alguma associação de solteiras que fazem tricô.

Enquanto o adjetivo pro homem soa como uma medalha, pra mulher é um consolo. O que certamente faz do cara um panaca, mas como nosso mundo é pautado pelos valores errados, ele se dá muito melhor que ela na vida. É ou não é uma vida triste?

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Frog rock

Já tinha falado um pouquinho do Supercordas no terceiro post que eu escrevi nesse blog, e ontem eu consegui baixar o primeiro disco deles inteiro, o Seres Verdes Ao Redor - Música Para Samambaias, Animais Rastejantes e Anfíbios Marcianos.


Pra mim, que ando nessa fase em que o peso da vida urbana desaba sobre os ombros, não poderia ser melhor: Seres Verdes é um disco sobre mato, rios limpos, violões de madeira e grilos cantando sob o sereno da noite. Pra você ouvir e ser transportado praquele interiorzão de Minas Gerais, entre as casinhas de madeira e as árvores cheias de frutas, tudo isso sem dispensar aquele elemento psicodélico que é mais que fundamental pra embalar a viagem.

Essa beleza foi lançada ano passado, e desde então tem ganhado destaque em todos os lugares importantes da música brasileira - inclusive os levando a participar do festival Supernovas esse ano, dividindo o palco com a sensacional Fernanda Takai - show que eu perdi por causa disso.

Então, quando você estiver aí sendo abafado pela poluição do ar, pela poluição sonora, pela poluição visual e pelo caralho a quatro, deixo aí minha recomendação de fuga. Afinal, como é dito em Ruradélica, com seres verdes ao redor, eu já me sinto bem melhor.

Site do Supercordas
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