quinta-feira, 31 de maio de 2007

No fun

Não sou muito chegado a essa coisa de comemorar aniversário. O meu, claro, que tipo de doente liga pro aniversário dos outros? Mas meus últimos 7 de janeiro têm sido marcantes.

Tirando esse último, em que eu estava (e continuo) desempregado, os outros dois penúltimos foram passados no trabalho. Em 2005, completando 20 anos, passei praticamente o dia na faculdade (embora não trabalhando, mas lá era meu local de trabalho, afinal) tentando me matricular (por que, deus, por que tem que ser tão difícil?) e vendo a esperança de ao menos pegar um cinema com os primos ser destruída porque aparentemente a pessoa que organizou a 'comemoração' não estava lá muito afim de ver o filme do Bob Esponja.

Em 2006 passei todo o dia em Ribeirão Preto, numa bendita convenção da firma (cuja camiseta comemorativa eu estou vestindo agora - não faço nada o dia todo, por que tiraria o pijama?), participando de atividades coletivas constrangedoras, assistindo palestras sobre qualquer coisa sobre a qual não prestei um fiapo de atenção e vendo meu chefe chorando na frente de todo mundo enquanto tentava nos convencer de que venceu na vida, mesmo tendo nascido em berço de ouro.

No meu último fechamento do movimento de translação passei parte na praia, sentado em uma cadeira e olhando pro mar enquanto minha bexiga segurava as lágrimas (madrugada, tinha nada aberto e eu não ia pôr meu pipiu pra fora na frente daqueles malucos!); parte dormindo enquanto minha família tinha aquele almoço conjunto gostoso e meus avós, que vêm pra São Paulo a cada dois anos, se despediam; e a parte que sobrou assistindo às mesas redondas noturnas (que se já são um saco em épocas gordas de assunto, imagine como é quando a atividade esportiva no país se resume à primeira rodada da Taça São Paulo de Juniores), mas não sem dar aquele pulo na cozinha durante os intervalos pra beliscar o bolo de caixinha maior gostoso que minha mãe me fez e fazer a contabilidade de quantas pessoas lembraram do meu aniversário (uma mão pra contar e a outra pra anotar).

Em geral, aniversário é tudo a mesma bosta. O mais legal que eu consigo lembrar foi quando eu fiz 10 anos, e minha festa foi decorada pelos Cavaleiros do Zodíaco, com aquele bolão sempre gostoso da dona Lurdes se exibindo no meio da mesa. O que me incomoda é pensar que muito provavelmente meu próximo aniversário vai acontecer comigo ainda nessa situação de miséria (animado pra conseguir um emprego? claaaaaaro), e como vai ser segunda-feira e minha mãe não vai poder me fazer um bolo, vou ter que comprar um bolo Pullman no mercado mesmo.

Ou tentar aprender a fazer um, mas será que se eu começar a tentar agora, até lá eu consigo?

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Sub-zero

Eu gosto bastante do frio. Mas ele tem, claro, suas desvantagens.

Hoje, por exemplo, está um dia polar em São Paulo. E é muito difícil fazer trabalhos manuais, por mais simples que sejam. Porque acho que nenhuma parte do corpo sofre tanto com o frio quanto os dedos das mãos (o peru encolhe, mas ao menos tá quentinho na cueca). Acordei e fui tocar violão, e foi um sofrimento brutal. Até o famigerado mi menor estava difícil de fazer (graças a deus que eu roubei uma palheta do meu primo, senão meus dedos estariam roxos). Mais tarde, fui tirar um queijo de dentro do plástico e gastei cerca de 36 minutos pra conseguir (e mesmo assim, pareceu que tinha passado um tufão pela mesa, catastróficas foram as conseqüências da batalha). Sou uma pessoa bem paciente, mas se aquela mussarela não fosse tão gostosa estaria embolada nos entulhos da casa de baixo agora.

Outros tipos de atividades também são prejudicadas pelo baixo desempenho da temperatura. Tipo fazer a barba. Já estou parecendo um dos Los Hermanos (embora meu desempenho no violão, na passagem citada, ateste gritantemente contra), tamanho o medo de sentir aquela água gelada batendo na minha cara. Mulher tem mais sorte, porque se depila com cera quente (e não venham com esse papo de que dói mais porque cada um escolhe o método que lhe proporciona mais prazer).

Bom mesmo nesse tempo é se jogar debaixo da coberta e ficar assistindo The Office comendo aquele queijo (vou comprar um estoque e abrir no verão, pra guardar pros dias frios) maroto. Frio é bom porque você pode se esquentar, e atribuo a culpa de tudo falado no segundo parágrafo à indústria têxtil, que não foi capaz de criar luvas que não te façam perder todos os movimentos da mão. Para o terceiro parágrafo, a culpa é minha admito - eu sempre me queimo quando tento acender o fogão pra esquentar a água.

Não sei porque raio os palitos de fósforo têm que ser tão curtos.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Missão: ser humano - parte III: lerêêê, lerêêê...

Dentre todos os problemas insignificantes que me atingem por esses meses, o mais grave é certamente o mesmo que atinge dois milhões de paulistanos: o desemprego.

Quando eu era bem pequeno, tive dois sonhos profissionais clássicos de criança: ser astronauta e jogador de futebol. Como eu sempre fui perna de pau aos extremos e me cago de medo de altura, deixei pra lá.

Sempre desenhei, mas mesmo pequeno pensava que o desenho era um hobby, não um trabalho, até porque seria bem difícil trabalhar com isso no nosso Brasil (quando até uma criança sabe que o mercado de trabalho em determinada função é um cu, não pode ser coisa boa). Como, ao contrário das pessoas normais, eu perco o juízo à medida em que fico mais velho, acabei aceitando que esse deve ser meu ganha pão.

Em meus trabalhos anteriores, já fiz bastante coisa, de colar papel na parede, instalar computador, carregar revista e misturar químico fotográfico a desenhar, diagramar, fazer saite e essas frescuras. Embora a parte de ilustração seja ínfima no meio disso tudo e eu provavelmente conseguiria mais dinheiro em outras áreas (ou não, visto que sou um incapaz em tudo), desenhar é o que me traz mais retorno egoístico: o pessoal gosta, elogia, conversa comigo e tal. Então acabei decidindo por isso (eu sou uma pessoa carente).

Decidido isso, rabisquei um milhão de coisas até chegar, finalmente, nao meu portfólio. São, acho eu, os melhores desenhos que já fiz (correção: terminei), então até estou satisfeito com a coisa. A idéia, claro é descolar um trampo, mas não sou tão exigente: sendo trabalho, tô aceitando qualquer coisa (que não prejudique meu rêgo). Porque esse papo de 'sonho profissional' é um paradoxo grotesco: trabalho não pode ser senão um pesadelo, do qual é praticamente impossível acordar. Já que é assim, bora lá.

Aaaah, meu portfólio tá aqui. Não perca essa oportunidade, seja meu chefe =)

domingo, 27 de maio de 2007

Tattoo you

Não sei se foi sempre assim, mas hoje em dia praticamente todas as pessoas falam em ter (se já não têm) uma tatuagem. É 'minha tattoo' pra cá, 'minha tattoo pra lá', 'minha tattoo' onde quer que eu ouça.

Não é nem pelo fator arrependimento, embora arrependimento seja o segundo sentimento que mais me acometa (só perde pra vergonha), mas eu não tenho intenção nenhuma de ter uma tatuagem. Por uma série de fatores: primeiro, como desenhista (cof cof) eu sei da importância do suporte na arte. Seja a tela, a parede de uma caverna ou uma folha de papel canson. Dessa maneira, chega a ser um ultraje alguém ter que desperdiçar sua arte no meu corpo (um rabisco de tijolo vermelho em um pedaço de lona seria mais honrado). Segundo, não iria gastar tempo, dinheiro e dor pra ver o desenho escorrer pela minha pele, dada sua bizarra oleosidade.

Terceiro, e mais importante, eu não vejo a menor graça. Em tatuagem nenhuma, a bem da verdade. Nunca vi nenhuma que eu pudesse pensar que trouxe algo valioso à estética daquela pessoa, porque não vejo como sendo algo bonito. Quer dizer, claro que já vi desenhos bem legais, mas não acho que aquilo seja mais bonito que a pessoa em branco. Eu sei, existem outros fatores que pesam, tem aquela moçada que quer mostrar atitude, ou marcar algo importante de sua vida. Como nada importante me acontece nem meu comportamento anda fora da completa caretice, estou cagando pra isso.

É como piercing. Não sei qual a razão de me mutilar pra anexar pára-raios ao meu corpo. Não é bonito, não é radical e não é transgressor, porque todo mundo faz. Dois amigos meus, quando namoravam, colocaram piercings nos mamilos como sendo suas alianças. Agora você imagine os dois casando, ele levantando o vestido dela na frente da igreja toda e espetando a dita aliança no peitinho, que lindo.

Quando Andy Warhol disse que no futuro todos teriam seus 15 minutos de fama, o mundo começou a reparar que sua mídia era seu próprio corpo, e aí tome parafuso e desenho pra decorar a fachada. Imagino nosso bravo prefeito Kassab baixando a lei 'Corpo limpo', e todo mundo correndo pras clínicas de remoção de tatuagem.

Taí uma coisa que eu queria muito ver.

sábado, 26 de maio de 2007

A vIdaH Eh DoCI

O Lobão é um dos maiores letristas do rock brasileiro, e essa música cheiro-do-rálica é um belo atestado disso. Porém nosso amigo lobo é ainda muito antiquado, e se prende demais às correções ortográficas e construções gramaticais. Pra colocar a música no idioma dessa moçada tão bonita e saudável que pisoteia nosso planetinha nos dias de hoje, fiz uso do maravilhoso Miguxeitor - Tradutor Online de Português para Miguxês. Agora paga um pau na letra do rapaz.

Kum A MSM FalTah di VeRgONhah NaH KARah eu PRocuRAVAH ALeNtu NU
sEu ultiMu veSTigiU...Nu TerritOriU...daH sUah prESEnXXah
ImPregnAnu tudU TUDU KI
eu NAUM poXXu...nEm kERu...dExXxAH Ki ME ABAnDONE
nAUM PoXXU...nem kerU...DexXxah Ki Me ABANdONE
nAum poXXU...NEm Keru...dExXxAh ki Me aBandONE naum
Kum A MSm FAlTaH dI veRGONHah nAH kARAh eU PROcuRAVAH ALeNtU NU
SeU ultImu veSTIGIU...Nu tErRItoRiU...DAH SUaH pResEnXXAh
imPREGNanu tUdU TuDu Ki
eU nAum PoXXU...nEm keRu...DexXxaH ki ME AbAnDOnE
NauM poXXu...NeM kERu...dexXxAH KI mE AbandoNE
NauM POXXu...nEm KeRu...dexXxah kI me abAnDOne naum
sAum noVaMenTI 4H...eu OXXu LixXxu nu fuTUrU
nU PreSeNti ki TrituRAh...axXx SIRENexXx Ki sI ATrasam
PRaH sAlVaH aTROPEladUxXx kI mORreRAM...ki FuGIam
kI NAScIam...Ki pErdeRam...kI viverAm taUM dePREXXah...
tAUM DEPREXXAh...Taum DEPReXXAH
saUm noVamenTi 4h...Eu oXXu LixXxU nu FUTurU
nU pRESENTI KI TRiTUrAH...AxXx SIreNExXx ki si aTRaSam
PRAh SalvaH aTROPelADuxXx kI MoRrERam...Ki fUGiAm
KI NAScIAm...kI pErDEraM...kI VIverAM dEPrEXXAH...DepReXXADemAIxXx
A ViDAh eh DOCi...depreXXAh d+......
A VIDah EH DocI...DeprEXXah D+......
a vidAh eH doci...DEPreXXAh d+......
i di repeNTI u tElEfOne TOcaH i eH VUxXxE
DU OtRu lAdU mE ligaNu...deVOlvENu minHAH iNsoNiAH
MINHaxXx bObAGENxXx...prAh mE LeMBRAh ki EU fuI a koizAh + BReGAh
ki pOsoW nah TuaH soPAH...... mE peRDOAh daKelAH exXxPREXXAopREh-fabRiCaDEenHaH
di TedIu...tAUm KanastRonAH kI nunCAh funCiOnOw NEm FuNcIonAH
i dI REPenTI u TEleFONe tOCah I eH vuxXxE
DU OTRU Ladu ME LIganu...deVolVenU MINHah INSOniaH
MinhAxXx bobAGenxXx...PrAh mE LeMBraH KI Eu FUI a kOIzah + BregAH
Ki poSOw nah tUAh SoPAH...... Me pErDOaH DakeLaH ExXxpreXXAoPReH-FaBriCadEENHAh
Di tEDIU...taUM KANAsTRonaH ki nUnCAH FuNCIONOW NEM FUncioNah
me PERDoaH a VidaH eh dOCI
Me PERDoah A VIdaH EH docI
me pERdoah...me PErDoah...Me perDoAH
saUM novAmENTi 4H...eU oXXU LixXxu nU futUrU
nu PrEseNTI kI tRitUraH...AxXx sirEnExXx KI si aTRAsAM
PRAH salVAH AtROpElaDuxXx KI moRreRaM...Ki FugiaM
KI nASCiAm...ki pERderAm...Ki VIVErAm taUM dePrEXXAh...
tAUm DePREXXAh...TauM dEpREXXaH
SAum noVamENTI 4h...eu oXXu LixXxu NU fuTUrU
NU pResENTI KI TRItUrAH...axXx sIreNExXx ki Si aTRasAm
PrAH SaLvaH atrOPElADuxXx Ki morReram...kI fugIaM
Ki naSCiAM...ki pErdERAm...KI vIVErAM DEprEXXAh...DePreXXADEmaIxXx
a vidaH Eh DoCI...DeprEXXah d+
A vIdaH EH dOci...deprEXXaH D+..................

sexta-feira, 25 de maio de 2007

AMaria

Ter um animal de estimação dentro de casa muda muita coisa, quando você não está habituado a tê-los por muito tempo. Meu último bicho foi um gato, o Jamanta, mas ele sumiu daqui há uns 6 anos. Ano passado, agregamos a Maria à família, e ela foi o primeiro cachorro a viver por aqui.

Dentre as coisas às quais você precisa se readaptar está a própria geografia da casa. Antigamente, eu conhecia o mapa do lar de cor e salteado, e caminhava tranquilamente por aqui no escuro, sem precisar me preocupar em perder a unha do dedinho do pé no sofá ou coisa assim. Hoje, andar pela casa com a luz apagada é cavalgar em campo minado. No banheiro, então, risco dobrado: antes mesmo de entrar, eu estico o braço lá dentro e acendo a luz. Certa vez esqueci de fazer isso e havia mais coisas entre meu All Star e o piso do que poderia sonhar minha vã filosofia (e agradeço a deus por ter me iluminado a não tirar o tênis antes).

Você também passa a ter uma noção mais vertical da moradia. Maria é um monstrinho devorador de coisas, então já não deixamos mais nada no chão, e toma chinelo e meia e pano de chão e blusa e cobertor e tupperware empilhado em cima da estante. Mas ela ainda prova a cada dia que é mais inteligente que todos na casa e rouba algo em algum lugar que considerávamos inalcançável.

Eu moro numa espécie de cortiço, com vários outros parentes, e, poucas exceções, eles não gostam da minha menina. Mais por preconceito contra a família canina que algo relacionado a Maria mesmo. Mas não gostam, e ela também não ajuda nesse sentido: toda vez que entra algum desconhecido dela no quintal, ela se dana a latir, perturbando os velhinhos e a bebê que tenta dormir (fico imaginando se ela não está em coma, porque aparentemente está dormindo o tempo todo).

Mas, mesmo com tudo isso, é muito melhor com Maria do que sem. Porque ela fica alegre e pulativa quando eu chego em casa, lambe minhas frieiras e dança quando eu toco Twist and Shout no violão. Com tudo isso, quem liga pra um cocôzinho aqui, uma meia furada ali ou uma criança traumatizada acolá? Eu não.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Campeão do mundo

Existe uma enorme gama de filmes norte-americanos que se esforçam pra ser engraçados colocando personagens típicos de sua cultura dentro de um contexto diferente, em que os modos do ianque médio são vistos como falta de educação ou grosseria, mas dando ao gringo aquele ar 'involuntário' de descolado, e tal. Esse tipo de 'contexto diferente' pode ser algum outro país ou algum outro lugar no espaço-tempo.

Você nunca vê um filme desses no Brasil, por exemplo. Porque eles sabem que, por piores que sejam, no meio de brasileiros o jeito 'despojado' do americano se equivaleria ao recatamento de uma freira. O mundo sabe, nós também, que o Brasil não é um lugar em que a educação e os bons modos imperam.

Embora ainda se invista nessa imagem de certa forma romantizada do brasileiro (Zé Carioca taí pra provar) o fato é que somos mesmo é macacos comedores de banana, e qualquer um que tente se desviar dessa caricatura paradoxalmente acaba se caricaturizando como um estrangeiro. Londrinos e parisienses por auto-projeção é o que não falta por aí. Dia desses fui numa excursão com a comunidade pé-rapada de Pirituba a Campos do Jordão, cidade de qualidade de vida elevada e tudo o mais. Lá a arquitetura urbana lembra o estilo europeu clássico, das pequenas cidades da Suiça ou da Holanda.

Quanto mais o brasileiro se incomoda com a visão estereotipada que se tem dele no exterior, mais ele procura se parecer com um estrangeiro. Fica até ridículo, e aumenta a impressão que se tem (impressão não, certeza) de que o Brasil é uma bagunça desgraçada, terra de ninguém (com exceções quadrienais).

Voltando ao foco do primeiro parágrafo, que era do despojamento amador do norte-americano, quem viu Borat sabe que não é bem assim que funciona a coisa. E, cá entre nós, se existe algum povo que mais se aproxima da figura bizarra do nosso bravo repórter bigodudo não é o cazaquistanês. Não mesmo...

quarta-feira, 23 de maio de 2007

The social music revolution

LastFm é uma espécie de site de relacionamento, mas de música. De certa maneira, semelhante ao My Space, mas ele te dá a opção de criar sua própria rádio e disponibilizar pro mundo inteiro, ou mesmo contabilizar as coisas que você ouve no seu computador. Desde ontem, quando entrei nessa, o ranking dos artistas mais ouvidos por mim é esse da figura em cima.

Outra coisa que ele te mostra é quantas vezes alguma música de determinado artista já foi executada. Pra desocupados e admiradores de coisas tão banais quanto o gosto popular, é bem divertido. E reserva algumas surpresas. Por exemplo: Arctic Monkeys (na casa das 14 milhões) já teve mais audições que Oasis e Led Zeppelin (ambos na faixa dos 13 milhões). E Incubus ainda mais que os dois (16 milhões, mais ou menos).

Dos que eu ouvi e reparei nos dados, o Coldplay vencia, com mais de 25 milhões. Mas eis que coloquei os Beatles e tcham: 42 milhões de audições!

É bem natural que uma banda de bastante sucesso e prestígio da atualidade como o Coldplay tenha quase o dobro de músicas ouvidas de dinossauros como Led Zeppelin e Oasis (tá mais pra um lagarto, mas enfim). Mas Beatles estar tão à frente foi uma baita surpresa. Não por falta de méritos, evidente, mas me surpreendeu mesmo que uma banda antigaça tenha dado um pau em um dos grupos mais populares dos dias de hoje.

Explicar o fascínio que esses rapazes exercem e exerceram nas pessoas ao longo das últimas quatro décadas e meia é coisa pra milhões de dissertações e teorias. Agora, entender esse fascínio e bem mais simples: basta ouvir.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Hole shit

Certa vez, em um certo melhor programa de comédia de todos os tempos, Jerry Seinfeld lançou uma pergunta intrigante: se um extra-terrestre chegasse à Terra e visse uma pessoa acocorada limpando o cocô de seu cachorro, quem ele pensaria ser o líder?

Eu tenho uma cachorra, a Maria, e por mais gracinha que seja, ela caga pelos póros. Querer a companhia de um animal de estimação tem dessas coisas: você tem que se submeter às atividades menos enobrecedoras possíveis.

Não é necessariamente um mal, desde que você não tenha coisas como orgulho e auto-respeito. Até Hércules, filho de Júpiter (ou Zeus, para os puritanos), homem mais forte que já pisou nesse planeta, teve que limpar os estábulos cheios de bosta do rei Augias de Elis. Tá certo que ele tinha recebido essa tarefa como punição por ter matado os próprios filhos, o que não é exatamente algo que vá levantar a auto-estima de alguém.

Nos circos e zoológicos sempre tem aquela pessoa que faz do hábito de recolher o estrume de animais uma profissão (e estamos falando de animais ridiculamente maiores que cachorros ou gatos). Porém, se imaginarmos que algumas pessoas precisam limpar as fezes de outras pessoas, talvez catar cocô de bicho nem seja tão ruim. E, dessa maneira, a primeira impressão que o extra-terrestre teve da raça humana provavelmente nem estava tão errada assim.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

NX Nada

Li uma materiazinha no Cifraclub em que o vocalista do NXZero soltava a franga e praguejava contra os detratores do emo. Dois trechinhos:

"Essa história de emo já passou do limite", falou o músico em entrevista ao Terra. "Quando a gente começou a aparecer, isso me deixava frustrado porque as pessoas ouviam que era emo e nem iam atrás do som pra saber como era. Nenhuma banda se considera emo por causa disso", disse Ferrero ao ser perguntado se considerava sua banda emo.

O vocalista reclama também do preconceito que encontra na música. Ele diz que os músicos mais tradicionais costumam "torcer o nariz" antes mesmo de ouvir suas músicas. Mesmo diante dos rótulos e preconceitos, o músico fala que respeita todas as tribos.

Ora. Primeiro, ao invés de reclamar dos que ouvem, ele devia pensar pelo outro lado e ver como há muito mais gente escutando o NX Zero do que a própria banda merece. Se alguém não ouve o som porque não curte emo, não adiantaria ouvir porque não ia gostar de qualquer jeito. Ele deveria agradecer, pois antes ter pessoas que não gostam da sua banda sem nunca ter ouvido do que pessoas com embasamento pra dizer que você é um lixo.

Depois, pimenta nos olhos do outros refresco é: fico imaginando quantos discos de pagode ele já ouviu na vida. Dizer que não gosta de pagode não vale, 5 pontos por hipocrisia.

Boa noite e boa sorte

Quando conto para algum parente um pouco mais distante ou algum conhecido da família de mais idade que sou formado em publicidade (ou que estava estudando, quando me perguntavam antigamente), uma das coisas mais comuns de se ouvir é 'ah, daqui a alguns anos a gente vai te ver apresentando o Jornal Nacional'.

Nem vou entrar na questão da completa ignorância da pessoa quanto às atribuições da minha profissão (é como contar pra uma criança que Papai Noel não existe: certas coisas é melhor você não saber). O que me incomoda é imaginar por que alguém acharia que o nirvana de um profissional da comunicação é apresentar um telejornal. Veja bem: eu passei 15 anos estudando e me formei na faculdade aos 21 pra fazer algo que eu daria conta aos seis! Senta na frente da câmera, de terno e bermuda, e vai lendo o que passa. Muito simples.

Você pode dizer que o Bonner é editor-chefe do Jornal Nacional, que o Boris Casoy é um jornalista conceituadíssimo e que o Cid Moreira leu toda a bíblia com um microfone nos beiços, mas eles são todos old school, de quando se pensava que a televisão poderia passar alguma credibilidade. Sílvio Santos, esse sim um gênio da comunicação por um tubo tascou logo duas gostosas - que provavelmente nunca abriram nem a página de quadrinhos de um jornal - com as pernocas de fora pra dar as notícias do dia. Incompreendido por nossa sociedade retrógrada, acabou voltando atrás, mas um dia perceberão sua grande sacada.

Porque, na real, jornalista é quem escreve a matéria. Apresentar, qualquer pessoa alfabetizada e com uma dicção minimamente compreensível (não é meu caso) pode fazer tranqüilamente. Televisão não é lugar de credibilidade, é de aparência. Esse é o motivo pelo qual eu nunca apresentarei o Jornal Nacional.

No mais: Sílvio Santos, bota a paraíba de volta no lugar do Tramontina!

domingo, 20 de maio de 2007

Deixa o menino jogar

A repercussão que a busca do Romário pelo tal gol mil causou não foi das mais positivas pra ele. Mídia afora, choveram provas, estatísticas e dados mostrando por A+B que esses mil gols não tinham plausibilidade oficial.

E quer saber? Foda-se. Sempre imaginei essa marca como uma conquista pessoal do Romário, não como um feito na história do futebol. Se os seus gols foram feitos em jogo-treino, em torneio de aspirantes, ou bolas na rede em jogo de futevôlei, foram gols dele do mesmo jeito, então pra ele conta. E daí se não vale pras estatísticas oficiais, e daí se ele não é Pelé?

O oxigênio da imprensa brasileira, a esportiva em especial nesse caso, é a polêmica, o oba-oba, a euforia descabida. Dessa maneira, talvez até tenha se criado alguma antipatia pela saga do artilheiro pigmeu, mas gente, nos coloquemos no lugar dele. Eu, mesmo sem nunca ter disputado uma partida de futebol oficial na vida, gostaria de saber quantos gols eu já fiz nas peladas na rua ou nos campeonatos da escola. São números que pra você significam nada, mas pra mim sim. É o mesmo com ele. Então deixa o rapaz comemorar, ele merece.

Romário nunca foi um herói meu, principalmente porque a seleção brasileira pra mim sempre foi um passatempo. Meus heróis mesmo são Telê, Raí, Muller, França, Kaká, Luis Fabiano, Rogério Ceni. Mas eu gosto de futebol, e assim como vibrei com a cabeçada do Zidane no Materazzi ano passado, fico contente pelo baixinho. E já chega desse assunto, bora ver quantos pontos eu marquei no Cartola.

Ô ô ô ô ô, my brother

Eu tenho um irmão, que é um ano e sete meses mais novo, mas como minha mentalidade estacionou aos 13, ele é o mais velho da nossa faixa na árvore genealógica. Embora eu nunca tenha achado isso, de tanto todos repetirem que nós somos parecidos, acabei me convencendo.

Nós somos ao mesmo tempo muito parecidos e muito diferentes. Quer dizer, embora a cara seja a mesma, o que se passa dentro da cabeça geralmente é bem diferente, mesmo que em ambas provavelmente nada de bom esteja sendo pensado. Nós já somos diferentes pelo comportamento: eu sou o quieto, ele é o falador, eu sou o publicitário, ele o matemático (por mais que a ordem pareça invertida), eu sou o careca, ele o nem tanto. Ontem mesmo eu fui ver um show da Pública, uma banda gaúcha de rock, com cerca de 20 pessoas assistindo. Hoje ele foi a uma micareta, cheia de baianos pulando em cima de um trio elétrico e com milhares de pessoas fazendo seu carnaval embaixo.

Mas temos também nossas semelhanças: gostamos de jogar bola (embora ele seja cem trilhões de vezes melhor que eu), gostamos de tocar violão (aí eu já ganho), gostamos de Los Hermanos, somos são paulinos, filhos das mesmas pessoas e desempregados (ele por obrigação, eu por ineficiência). Já vi uma cacetada de casos de irmãos que não se suportam, que brigam o tempo todo, que isso e aquilo. Embora ele agora esteja vivendo em São Carlos, nossa convivência nunca foi atribulada, e brigamos bem pouco durante nossa infância. Vou mentir se disser que gosto da companhia dele o tempo todo, especialmente porque gosto de ficar sozinho, mas não tenho nenhum problema em dividir dois finais de semana por mês com ele. Para o resto do tempo, tenho a companhia da Maria, minha cachorra, irmã, filha e tudo mais. E na moral, eu acho que ela parece mais com ele que comigo - mas ao menos não fica usando a internet o tempo todo, e deixa um pouquinho pra mim.

Ok, confesso, eu prefiro a Maria. Mas isso morre aqui.

sábado, 19 de maio de 2007

Bom humor

Ontem (ou hoje), liguei a TV de madrugada e tava passando o programa do Jô. A convidada, nunca vista, era comediante. E ela era excessivamente simpática e sorridente, então logo pensei: 'ela é ruim'.

Não nego, alegria alheia me incomoda, mas nem é esse o ponto. Ela até pode ser feliz e tudo o mais, mas vá trabalhar em outra profissão. Explico: se ela é assim toda sorridente, ri de tudo, que tipo de critério ela usa pra definir o que é engraçado ou não nas suas atuações? I mean, se o senso de humor dela é tão defasado assim, fica difícil passar algum tipo de credibilidade humorística, entende?

Mais do que ninguém, o humorista precisa ter um cuidado especial com essa coisa do riso, porque esse é o seu salário, seu objetivo. Ele mais do que ninguém precisa saber valorizar uma gargalhada, e não sair distribuindo-a por aí como se fosse folheto de 'compro ouro'. Nunca vi o Larry David rindo em uma entrevista, a não ser aquele sorriso cínico de canto de boca. Ele aliás está sempre amuado, triste, reclamando da vida - e, ainda assim, é engraçadíssimo.

Risadas são sempre bem-vindas, mas não garantem a diversão. Tanto é que o antigo modelo de sitcoms, com aquelas claques (risadas da platéia) ao fundo (tipo Seinfeld e Friends), tem estado em baixa nos US and A, dando lugar aos seriados sem as claques e sem locações fixas (My Name is Earl). Porque às vezes uma fração de segundo silenciosa e contemplativa após uma piada tem um efeito cômico muito mais devastador que risadas se atropelando à fala do ator.

Só para concluir, no segundo bloco do programa nossa amiga comediante se apresentou, e adivinhe só: ela é péssima. Um castigo de São Golias a quem maltrata tanto o riso. Bem feito.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Days ouf our lives

Comecei a freqüentar a Gibiteca Henfil há 8 anos atrás, quando eu tinha 14. Na época, ela ficava na Sena Madureira, Vila Mariana, e eu fazia um curso de desenho de histórias em quadrinhos numa escoleta na Rebouças. Nesse tempo meu pai tinha carro e sempre me levava ao curso nas manhãs de sábado, e enquanto eu ficava lá rabiscando ele ia até a gibiteca me pegar uns gibis, geralmente esse aí da imagem à esquerda, que além de, com o perdão da grosseria e da empolgação, ser foda pra cacete, ainda me servia de referência para as aulas.

Anos mais tarde, a gibiteca mudou de lugar e foi anexada ao Centro Cultural São Paulo, na lendária Rua Vergueiro, 1000. Voltei a freqüentá-la em 2004, auge dos meus 19 anos. Todo sábado, depois da aula, eu andava até lá e perdia algumas horas do dia folheando revistas e escolhendo outras pra levar pra casa, entre elas o mesmo Akira (cuja última página da saga toda estava arrancada. Inacreditável), Batmans, Tio Patinhas, Mônicas, e, principalmente, Henfil.

Henfil é gênio, o melhor autor de quadrinhos que esse país já viu, na frente do Laerte até, mas falo disso em outra hora.

Quando soube essa semana que uma praga de um balão dos infernos caiu no forro do Centro Cultural e botou fogo em tudo lá, meu coração apertou e meu cu ficou desse tamanho. Sabe como quando você recebe uma notícia de que aquele seu amigo do ginásio foi internado? Algo assim. Falei só da gibiteca, mas também o Centro Cultural preenche boas páginas da minha história, pois era o ponto de encontro da minha gangue, desenhistas frustrados e brilhantes. Assim sendo, foi difícil segurar a tristeza pela notícia. Só espero que ele se rehabilite e volte a ser o palco de jogadores de RPG bizarros, vestibulandos desesperados, e senhores leitores de Tex, como sempre foi. Não quero ter esse tipo de lembrança só na minha memória, Alzheimer pode estar sempre espreitando.

1 por amor, 2 por dinheiro

A maior prova de que o ser humano é burro e pateticamente subordinável é a trajetória do sistema monetário na história da humanidade.

Nos começos, existia o escambo, que era a troca de materiais sem equivalência de valor, mas por necessidade (como trocar a figurinha do Kaká pela do Belletti). Com o tempo, foi-se adquirindo a idéia de moeda, mas através de produtos, como sal (daí o nosso salário) e as cabeças de gado (do nosso querido capitalismo).

Certo, vou cortar aqui a história e vir direto pra Guerra Fria, lá pela metade do século passado. Melhor, que se dane a Guerra Fria, caiu o Muro de Berlim, urru, capitalismo campeão mundial. Como a base do capitalismo, desde a época das navegações, passando pela revolução industrial e chegando a hoje, é a obtenção de lucro (veja que a idéia de troca de valores por simples necessidade já morreu) e a acumulação de capital, vivemos uma coisa muito peculiar que explica o ataque que eu fiz no primeiro parágrafo: o homem virou escravo do dinheiro.

Sabe aquela família que criou o pitbull com todo amor e carinho, e um dia o danado mastigou a bochecha da filha mais nova? É a mesma coisa: criamos algo para facilitar nossa vida e nossas relações interpessoais, e agora ele virou um monstro que escraviza cada minuto e cada neurônio nosso, destrói nosso planeta, lixifica nossa inteligência e dança sobre nossos cadáveres como se fossem um pódio.

Como dizia uma música dos Racionais (também responsáveis pelo título desse post), 'deus é uma nota de cem'. E todo ateu é pobre.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Missão: ser humano - Parte II: Padula no volante, perigo constante

Na pequena lista de passos que eu bolei para cumprir e me tornar uma pessoa, não existe propriamente uma ordem: primeiro isso, depois aquilo. Vou com o fluxo da maré. Sendo assim, eu gostaria muito que essa parte II tivesse sido 'arrumar um emprego', mas me contento com ter voltado a dirigir.

Desde que eu tirei minha carta, em 2003, eu dirigi bem pouco. Não fazia isso há dois ou três anos (acredite, é melhor pra todos), mas já estava nos meus planos voltar. Meus planos só foram bruscamente antecipados pelos apelos do meu vô, que já viveu bastante e quis ir até o posto comigo no volante.

Depois de tantos e tantos dias sem ter um volante entre as mãos e um montinho de cocô entre as nádegas, você acaba perdendo uma série de coisas: manhas, reflexos, segurança, etc. E, sinceridade, eu tenho medo de carro. Não de dirigir, em particular, tenho medo de estar em um carro. Prefiro um ônibus, um metrô ou um par de pernas. O engraçado é que eu não tinha isso, até me tornar um motorista habilitado.

Na verdade eu tenho medo de uma cacetada de coisas. Sou cagão mesmo. Mas, para ser um ser humano médio, preciso me livrar dessas bichices, e então vou continuar dirigindo. E, na moral, nem fui tããããão mal assim, o que é bem surpreendente (o carro não terminou entre a parte de cima e a de baixo de um poste, nem sobre um pedestre). Se o meu vô, depois da experiência de hoje, ainda quiser soltar o carro na minha mão, vou ter um monte de asneira pra chorar aqui no blog. Ou talvez esse seja meu último post, vai saber.

Adeus, por via das dúvidas.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Such a special night


Tinha escrito aí no post de baixo, sobre eu ter ganhado um ingresso pro show do Vanguart, que provavelmente seria uma merda a apresentação, o que compensaria a cagada inédita de ter levado pra casa um prêmio.

Claro que, se por um lado eu não sou o cara mais sortudo do mundo, por outro eu tenho algum fetiche por falar merda, e guess what: o show foi muito bom. Rolou de tudo: teve o Canibal sentado do meu lado, teve aquele tiozinho cabeludo que anda sempre com os vinis debaixo do braço (ele é onipresente ou o quê?), teve o Zé do Caixão jogando uma praga em mim AO VIVO (morra de inveja, desgraçado!), teve o João Ricardo do Secos e Molhados (que cantou Cachaça fora do tom), teve o Hélio usando o mesmo terninho-marrom-de-cotoveleiras-de-veludo que ele usou no outro show deles que eu vi, teve cover dos Beatles (Sgt. Peppers), do Chet Baker (My Funny Valentine, linda...) e do Secos e Molhados (evidentemente), e teve Rainy Day Song, Just to See Your Blue Eyes See, Semáforo, Into the Ice, Last Express Blues...

Na real, desde o Mombojó eu não curtia tanto uma banda brasileira. Que canta em inglês e tem aquele acento folk inconfundível, mas que brotou lá em Cuiabá, ou cu do Judas, o que mostra que o país é grande demais e continua além da Dutra.

Quando chegar o cd eu digo mais =)

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Sorte de principiante

Thiago, tudo bem? Aqui é o Mac, da Revoluttion/S&Y

Seguinte, me passa teu RG, please.

Vou deixar um convite separado pra ti na bilheteria do CCBB, para a sessão das 19h, ok. :)

O single eu mando durante a semana, assim que o pessoal da produtora me passar os brindes.

Abraço
Mac

Nem eu acreditei quando li, mas sim, eu ganhei um sorteio.

Eu tenho muita sorte com algumas coisas, tipo segurança: nunca fui assaltado, mesmo morando em São Paulo há 22 anos, nunca tive uma batida de carro feia, nunca caí de cabeça no chão. Mas pra outras coisas minha sorte é tão real quanto uma moeda de trinta centavos.

A última vez que eu ganhei um sorteio deve já ter bem uns 10 anos, ou mais. Ganhei uma rifa de uma cortina, que eu nunca usei porque junta pó, e alérgico sou. O que me faz acreditar que minha cota de sorte por essa década já está encerrada.

Acaso ou não, o negócio é que eu não fiz nenhuma simpatia ou superstição (mantenho-me firme aos meus propósitos) e ganhei um single do Vanguart e um ingresso pro show deles amanhã. Claro que, sendo comigo, provavelmente o CD vai chegar riscado e o show vai ser uma merda, mas isso eu descubro no decorrer da semana. E enquanto isso vou vivendo esse momento raro =)

domingo, 13 de maio de 2007

St. Alex Ferguson

Li agora no cifraclub. O engraçado é esse tipo de pedido ter vindo de um músico de uma banda de rock (em alguns momentos, né), essa coisa abominável segundo o Bentão. É um brincalhão...

Baixista do Primal Scream quer que técnico de futebol vire santo
13 de Maio de 2007

O baixista da banda Primal Scream, Gary 'Mani' Mounfield, vai mandar uma carta para o Papa Bento XVI com um pedido inusitado.

Fanático por futebol (torcedor do Manchester), o músico vai enviar uma carta ao pontífice solicitando a canonização do técnico dos Red Devils, que ganhou o novo título de campeão inglês à frente do time.

Talvez o pedido não seja leva a sério, já que o baixista tem o filme um pouco queimado na Inglaterra. Rumores dizem que dentre as várias encrencas que ele já se meteu, certa vez Gary fez um coquetel de drogas no microondas do ônibus da banda e após consumi-lo, vomitou na porta da casa onde Elvis Presley morou. O baixista também já teria sido expulso de um programa britânico de auditório por mau comportamento.

Eu te vivo, você se morre

Acabo de chegar de um churrasco com o pessoal da já antiga faculdade. Como a freqüência com a qual a gente se vê, assim todo mundo, é ínfima, foi bem bom ter esse tipo de reunião de novo.

E conversa vai, conversa vem, todos os 14 ali agrupados numa mesma roda (o último churrasco, pouco após o término do curso, tinha mais de 30, então era impossível evitar as panelas), até que chega em um tipo de assunto que é pólvora pra qualquer bate-papo entre pessoas que conviveram durante muito tempo: a vida dos outros.

Como estávamos em 14, o que não faltava eram costas pelas quais pudéssemos falar. E a cada comentário sarcástico, a cada piadinha maldosa, via-se fácil os sorrisos estampados pelos rostos de todos, satisfeitos em lavar roupa suja de terceiros ali, entre amigos, bois e cervejas. Falar mal de pessoas pelas costas é, depois das citações óbvias, das coisas que proporcionam mais prazer nesse mundo. A minha vida é uma merda, nada de bom acontece, então vou cuidar da dos outros - simples assim. Cuidando, mas não se responsabilizando - é perfeito, é tudo que não podemos ter pra nós mesmos.

A gente vive a nossa vida por obrigação, mas vive a dos outros por esporte.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Ventura

Nada contra (talvez um pouco), mas não me entra na cabeça essa coisa de superstição. Pra mim, essa questão de sorte e azar é muito mais cósmica, uma conjunção de fatores aleatórios que o universo manipula. Como é que isso tudo cabe em um gato preto?

Outro dia estava na rua e tinha lá uma escada arreganhada sobre a calçada. Uma mulher na minha frente passou por debaixo da escada, uns dois passos a frente se ligou, então voltou, passou por baixo da escada de novo e então, finalmente, passou por fora. Ou seja, nosso principal exemplo da teoria que põe em dúvida a inteligência humana passou sob a escada duas vezes. E, pelo menos até onde eu pude ver, nada aconteceu com ela - afinal, se passar uma vez já é azar desgraçado, duas é pedir pra morrer na próxima esquina.

A coisa da sorte e azar também é muito relativa. A sorte do homem e do coelho é totalmente inversa, como se fosse um espelho: pra cada humano supostamente sortudo há um coelho perneta. Que tipo de privilégios na vida pretende ter um desgraçado que transforma um roedor tão simpático num saci?

Mas o pior de todos é, certamente, o torcedor supersticioso. Aquele cara que acha que o time dele só perdeu porque ele não usou a cueca da sorte. Sejamos racionais: o futebol é uma indústria que movimenta trilhões de dólares todo ano, transforma meninos pobres em mega-stars, mobiliza cidades, estados, países em torno de um campeonato. Realmente difícil acreditar que isso tudo seja controlado por um trapo nojento que guarda os testículos de algum desocupado.

Por isso essa coisa de superstição não me entra na cabeça. Sorte é loteria, e não adianta querer trapacear porque quem gira a roda com as bolinhas é deus, e ele não é tão subornável quanto parece. Agora volta lá no pasto e devolve a ferradura pro coitado do cavalo, que ele tá mancando.

Para abrir os ouvidos

E com vocês, a melhor música de 2007!!!

clap clap clap clap clap clap



(Versão com áudio e imagem decentes aqui)

terça-feira, 8 de maio de 2007

Enquanto isso, no MSN...

Nota: 'Why can't we be friends?' sou eu.

CIRINO....!!! says:
vc eh um cara sedentario neh???
CIRINO....!!! says:
rs

Why can't we be friends? says:
eeeeeeu??? (cara de pau...)

CIRINO....!!! says:
minha amiga precisa faze uma reportagem..sobre sedentarios...e tipo ela ira ateh vc te entrevistar..vc topa? (ela vem até mim só porque eu sou sedentário?)
CIRINO....!!! says:
pah e bola..meia horinha

Why can't we be friends? says:
tbm não sou tão sedentário assim, né mano (cof cof...)

CIRINO....!!! says:
vc tem aversao a eesportes?
CIRINO....!!! says:
naum tem? (perceba a convicção com que ele falou)
CIRINO....!!! says:
rs

Why can't we be friends? says:
claro q não (é verdade, vai)
Why can't we be friends? says:
hahahahha (mostrando descontração e intimidade com o assunto)
Why can't we be friends? says:
até jogo de vez em quando (aí mente e caga tudo)

CIRINO....!!! says:
jovens sedentarios seria a reportagem neh (obrigado pelo 'jovem')
CIRINO....!!! says:
achei q vc odiava
CIRINO....!!! says:
rs

Why can't we be friends? says:
hahahahaha, pq? eu só não pratico tanto quanto gostaria, mas tbm não é assim (mentiiiiiiira)

CIRINO....!!! says:
hahahha
CIRINO....!!! says:
fora da lusta entaum
CIRINO....!!! says:
na sala lah naum tem ninguem suuuper sedentario neh? (além de mim?)

Why can't we be friends? says:
mano... deve ter, mas não to lembrando de ninguem agora (eu protejo os meus!)

CIRINO....!!! says:
pior q eh

Why can't we be friends? says:
se eu lembrar de alguem te dou um toque (se eu não ficar com preguiça, né)

CIRINO....!!! says:
eh nois
CIRINO....!!! says:
valeu

Why can't we be friends? says:
por nada

Só pra constar: não que eu goste de mentir, mas passar esse tipo de constrangimento para toda a mídia não é um dos meus esportes preferidos.

A arte de falar sobre aquilo que não se sabe

Tinha lido e ouvido pouco a respeito do incidente na Praça da Sé durante a Virada Cultural quando resolvi escrever o texto aí de baixo (capítulo 2 - Vida Loka), baseado em algumas idéias que já me ocorriam, mas que sempre se aplicaram mais ao rap norte-americano, de aberrações como Snoop Dogg e 50 Cent. Pra tentar exemplificar minha teoria, acabei me aproveitando do acontecido e, burro as a door, dei na verdade uma baita exemplo de superficialidade na hora de tecer um comentário.

Após ler mais sobre o assunto, inclusive com depoimentos de pessoas que estavam lá no meio, ficou bem claro que o problema é mais em cima, hierarquicamente falando. E que, quando o Mano Brown disse "Aí, vamos ignorar a polícia. A festa é nossa", não era uma incitação ao acirramento da clássica rivalidade, mas sim uma maneira de mostrar que a polícia era menos do que tentava se fazer mostrar por meio de balas de borracha e gás lacrimogênio.

Vai aí um link pra um texto do Xico Sá, que estava justamente ao lado da banca de jornal onde começou a putaria. Clica aqui. Mas mantenho o que havia dito no final do texto: todo mundo tem que se conscientizar da sua própria insignificância. Ostentação de poder é deprimente.

domingo, 6 de maio de 2007

Sobre a Virada Cultural, o gangsta rap e duas nações apaixonadas

Senta, que esse é grande.

Capítulo 1: Um passeio no mundo livre
A iniciativa da Virada Cultural é muito boa. Dedicar 24 horas da rotina noturna de uma cidade como São Paulo à cultura e às artes é, acima de tudo, sensato.

Pooooorém, algumas vezes a coisa acaba se perdendo. Por ser um evento dessa grandeza, evidente que a prefeitura precisa ser, no mínimo, megalomaníaca na organização dos seus eventos principais. Mas o que se viu na Praça da Sé (não falo da putaria com os Racionais, chego lá no próximo capítulo) foi o tal pretexto da cultura se perder completamente no meio de centenas de milhares de pessoas, batalhando por um espacinho, coisa semelhante a um busão gigante e que não sai do lugar.

Impossível usufruir da arte desse jeito. O verdadeiro espírito da Virada Cultural pode ser achado em eventos menores, fechados e tudo o mais, pois esperar receber um pouco da energia cultural de São Paulo no meio daquela muvuca é, no mínimo, ingenuidade.

(Mas a Nação Zumbi consegue, mesmo assim, ser a melhor banda do Brasil em cima de um palco. Que beleza)

Capítulo 2: Vida Loka
Eu gosto bastante dos Racionais. Acho o Mano Brown brilhante, e eles são das poucas bandas de rap hoje que eu ouço sem lamentações.

Mas precisa parar com essa babaquice de ficar se fazendo de menino mau. Não dá mais. As letras do grupo, se for reparar, nem fazem apologia ou incitação à violência. O problema é a postura. Essa coisa de pagar de bad boy, de 'aquele que você odeia amar', pra usar as palavras do próprio Brown. Os Racionais são o grupo musical que mais influenciou a juventude brasileira desde a Legião Urbana, e hoje é cool ser casca-grossa, olhar feio, botar medo. Como diz o Lobão, 'é tudo pose, é tudo pose, é tudo pose'. Mas é tanta pose que o personagem acaba incorporando, e então temos uma legião de delinqüentes.

Pra ele pode ser bonito provocar o caos, estimular o Tyler Durden de si mesmo, mas essas crianças acabam fazendo coisas por embalo que de maneira nenhuma ajudam em seu próprio crescimento pessoal. Acho o Mano Brown tão brilhante quanto o Renato Russo, mas precisa acabar com essa coisa ridícula de menino bom e menino mau. Chega dessa 'vaidade' besta, dessa coisa de querer se sentir poderoso. Cada um precisa saber o quão insignificante é e se colocar no seu lugar.

Capítulo 3: Love's got the world in motion
(Título emprestado do New Order, que não tem nada a ver com a história)

Ainda na Virada, tive a oportunidade de assistir a um show do Beatles 4ever, puta banda cover daquele grupinho semi-famoso. Depois, fui ao Canindé assistir à final da segunda divisão do Campeonato Paulista, entre Portuguesa e Rio Preto.

Fiquei muito emocionado de estar no meio de duas nações apaixonadas (embora, no caso do jogo, eu fosse mais um estranho no ninho). É impressionante perceber como coisas como a música e futebol podem unir milhares de pessoas sob uma única bandeira, em uma atmosfera de felicidade intensa e orgulho rasgado por fazer parte de uma coisa tão grande e tão bonita. Cada refrão de Don't let me down cantado em coro, cada 'Lusaaaa, lusaaaa' soando em uníssono pela arena, cada abraço comovido durante o 'nanana' de Hey Jude, cada abraço comovido depois de um golaço, cada grito de euforia após a primeira nota de Come Together, cada grito de euforia após o apito final do juiz. Estar no meio de tudo isso é, além de uma experiência antropológica divertidíssima, uma prova de que a felicidade existe sim, mas vive em pequenas redomas, protegida pela paixão dos fãs. Foi foda.

sábado, 5 de maio de 2007

Toque ligeiro

Postzinho rápido: o Bruno Medina, tecladista do Los Hermanos, a banda que misteriosamente deu um tempo quase simultaneamente ao fim de Sandy & Junior, tem um blog novo, o Instante Posterior. Vale a olhada: http://www.instanteposterior.globolog.com.br/

A (pobre) cidade de Townsville

Existem centenas de diferenças entre o universo fantasioso dos super-heróis e essa bosta em que a gente vive. Os super-poderes, as características psicológicas dos vilões, a facilidade imensa com que se define que é o bem e quem é o mal. Porém, entre todas as discrepâncias, a mais significativa é a maneira com que os personagens lidam com o cenário.

Enquanto na vida real a cidade, os prédios, os carros são ídolos sagrados da nossa religião urbana, no mundo dos super-heróis são apenas maquetes de isopor, que se destróem com a mesma facilidade com que se troca de roupa numa cabine telefônica. Enquanto o Homem-Aranha põe abaixo uma dúzia de prédios enquanto luta com algum vagabundo e é aclamado, Osama Bin Laden derrubou dois e é o cara mais procurado do universo.

Na heroilândia, a vida de anônimos não vale merda nenhuma. A gente só vê o coitado que tá pendurando na janela enquanto o fogo toma conta da construção, mas esquece dos outros vinte e seis que já foram carbonizados só porque o Batman desviou da bomba. Na vida real, a vida de anônimos também não vale nada, mas ao menos eles viram números para as estatísticas.

É muito fácil ter um robô gigante quando você tá cagando pra quem está sendo pisado lá embaixo. Imagina o Jaspion limpando a sola do pé do Daileon depois de uma batalha. Tudo isso porque no universo dos heróis os fins justificam os meios, então tudo fica incrivelmente fácil. O que é até compreensível: de complicado, arrastado e chato, eu já tenho a minha vida. Vamos nos divertir no mundo ideal, então.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Pra ver se eu como alguém

Tem uma música do Pullovers que chama 'todas as canções são de amor' (ouve aqui) que, bem, o título é auto-explicativo. Tem uma outra do Velhas Virgens que crava, sem pudor: 'tudo que a gente faz é pra ver se come alguém'.

Em um curta (genial, só pra constar) do Monty Python, um cara expõe uma teoria de que a alma não nasce completa. Ela é como uma garrafa, que precisa ser preenchida ao longo da vida, e alerta para o descaso que tem sido feito dela, uma vez que as pessoas cada vez mais se preocupam com coisas que, no fundo, não são importantes.

E também tem aquele desenho japonês, o Evangelion, que diz que o ser humano é, assim como já dito no exemplo anterior, incompleto por natureza, e esta é a razão pela qual uma pessoa precisa de outras: para 'se preencher'. Também diz que a próxima etapa no processo evolutivo seria o ser humano completo, coisa que eles tentam forçar através de um 'plano de complementação humana', remendando as almas de todas as pessoas do mundo (não tente entender, vendo o desenho já é difícil).

Agora a última, só pra terminar: tem aquela música, daquela banda, feita por aquele compositor, que, embora aparentemente 'desminta' o que se diz nos dois exemplos do primeiro parágrafo, na verdade está dizendo a mesma coisa: a gente passa a vida inteira tentando impressionar pessoas. Se a gente escreve uma música, se a gente muda o corte de cabelo, se a gente escreve um post cheio de exemplos bizarros, no fundo, ou às vezes até mesmo na superfície, é só pra fazer com que aquela pessoa note você. É a coisa do Evangelion: precisamos nos 'complementar' através dos outros. Mas, embora essa busca pelo destaque e pela diferenciação seja o que nos move pelas esburacadas estradas da vida, no final das contas, 'there's nothing you can do that can't be done, nothing you can sing that can't be sung (....), all you need is love'.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

O sentido da morte

Não concordo com quem diz que um suicida é um covarde, por ter optado a morte como alternativa ao enfrentamento dos problemas da vida. Eu acho que é justamente o contrário: a gente só se flagela na vida e agüenta o tranco por achar que, ainda assim, é melhor isso que estar morto.

Também não vou dizer que quem comete suicídio seja necessariamente alguém corajoso. Acho que, na maior parte dos casos, o auto-homicida é precipitado, e acaba se matando antes que o medo chegue.

Posso estar enganado, mas acho que, por mais fiel que você seja a uma determinada crença, e acredite seriamente em coisas como a vida após a morte, reencarnação and stuff, é só a morte lhe passar em frente aos olhos que tudo desaparece e só sobra o pavor. Acho que isso é um recado do cérebro dizendo que, quando você abotoa o paletó, acabou: não há nada além, você virou comida de minhoca. O medo da morte acaba sendo algo que você faz involuntariamente, como respirar: você não precisa ficar lembrando de respirar, pois existe um trocinho dentro de você que sabe que se você não fizer isso, já era.

Nada contra essa coisa de alma e tal, mas você acha realmente que ela continua vivendo depois que o corpo padece? Pelo menos na minha cabeça, a visão de um morto-vivo está mais próxima à de um zumbi do Resident Evil que do Gasparzinho. Ver mortos, sonhar com eles, conversar com eles: que diabo é isso tudo afinal de contas? Não duvido de quem diz isso, mas, de verdade, você confia no seu cérebro?