segunda-feira, 30 de abril de 2007

O pecado da carne

Não sou vegetariano. Até compreendo a 'filosofia' e as preocupações que levam um coitado a se abster de produtos de origem animal, mas não compactuo e, principalmente, fico mordido (isso já caracteriza carnivorismo?) quanto tentam me enfiar esse aborto do paladar goela abaixo.

Um dos lemas preferidos dos vegetarianos é 'animais: se você ama uns (desenho do cachorro), por que come outros (desenho da vaca)?'. Em primeiro lugar, gostar de uma espécie de bicho não me obriga a gostar do reino animal inteiro. E em segundo lugar, não vou me atrever a comer um bicho de que não goste. Pois, fosse esse o ponto, baratas e marimbondos deveriam fazer parte da dieta vegetariana.

Pode perceber que a maioria esmagadora dos vegetarianos se converte já adulta, quando não precisa mais da autorização dos pais para cometer esse tipo de atrocidade. Pois eu duvido que mãe alguma fique incentivando o filhinho a ir pro pasto comer capim. 'Vai lá, Júnior, olha como o pangaré tá gostando'.

O peido da vaca contém CO2 (gás carbônico) e CH4 (metano), agentes causadores do efeito estufa, e o número de cabeças de gado no Brasil é maior que o número de cabeças de gente. Ao mesmo tempo, a área verde diminui drasticamente e cada ano.

Como disse Arnaldo Branco, se as vacas estivessem no topo da cadeia alimentar, elas também nos comeriam. Ou talvez não, visto que bovinos são herbívoros, e não mudariam sua natureza assim, como certa gente faz. Morder um belo naco de carne vermelha e deixar o sangue escorrer pelo canto da boca, além de ser gostoso pra cacete, é cumprir com a função de ser humano. É crime? Vai falar isso pras plantas, então.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Auto-ajuda

Tem um samba relativamente antigo que diz assim: "Não estou dando, nem vendendo/como o ditado diz/o meu conselho é pra te ver feliz". Com essa música na cabeça, comecei a puxar na memória algumas frases que ouvi durante a minha vida e que de alguma maneira podem ter contribuído pra eu estar hoje onde estou. Tudo isso é verdade.

Amigo: "Seu irmão (eu) não dribla, não corre, não chuta, mas tem uma puta visão de jogo!"
Irmão: "Visão de jogo? Ele é míope, acertou na cagada."
Pior que é verdade, mas foi um puta lançamento.

Mãe: "Você tem sérias chances de ser um fracassado"
E você como mãe foi um sucesso!

Professor de pintura: "Mas vocês vão deixar ele (eu) pintar??!!"
Já me deixaram ser amigo deles, o que é um desenho perto de uma vida inteira estragada?

Eu: "Deixa mais na frente, pra cobrir as entradas"
Cabeleireiro: "Rapaz, não vai adiantar não..."
Vai cortar o cabelo a cinco reais, trouxa...

Amigo, quando me viu de cabeça raspada: "Hoje o Padula acordou e pensou: 'como eu faço pra ficar mais feio?'"
Gosto de desafios.

Amigo, tentando me convencer a entrar num negócio: "A gente precisa de alguém como ela, que manja de internet, e de alguém como você, que é uma besta estúpida que só fala merda"
Me convenceu!

Cardiologista, na hora do ecocardiograma: "Mas você não é magro assim mesmo, é?"
Não, sexo emagrece. Pergunta pra sua mãe como eu era gordo.

Professora de criação, sobre um trabalho que eu fiz e tirou 10: "Foi você (outra pessoa) que fez, né?"
O fato de ela ter sido minha chefe por um ano lhe deu base suficiente pra chegar a essa conclusão.

Instrutor de direção, após a aula: "Vou ter que voltar a tomar Gardenal"
Não mandei você parar.

Pai, sobre uma girafa que eu desenhei: "É a Maria (minha cachorra)?"
É. E aquele jumento era pra ser você.

Primo que me ensinou a tocar violão: "Cê não toca porra nenhuma"
Mas faço um mi menor como ninguém!

When I see you cry, it makes me smile

Há pouco, passei de ônibus na frente do Pacaembu, coisa de meia hora depois de o Corinthians ser eliminado da Copa do Brasil pelo Náutico.

Me chame de cruel e sádico, mas ver aquele cenário de desolação e tristeza encheu meu coração de alegria.

=)

quinta-feira, 26 de abril de 2007

O país dos bambas

Na casa do Martinho da Vila todo mundo é bamba, pois todo mundo bebe e todo mundo samba.

Eu não sou bamba. Não bebo e nem sambo, embora curta ouvir um sambinha e estar numa mesa com amigos enchendo a cara. Isso faz de mim, portanto, um bamba passivo. Mas ainda não estou pronto pra ser um bamba de verdade, pois bambas de verdade não ouvem Faith no More nem bebem Toddynho no domingo à tarde.

Essa coisa do bamba, do malandro, e todos esses personagens que o samba inventou pra alegorizar o folclórico lema 'sou pobre mas sou feliz' são típicos do brazilian way of life. O brasileiro é um povo predestinado a ser pobre e desgraçado. Não vou repetir as razões, se você já teve aula de história na escola ou saiu de sua casa pelo menos uma vez na vida sabe porque. Ser pobre faz parte da nossa cultura. Quando os militares tentaram nos enfiar goela abaixo o milagre econômico e o amor pela nação, eles sabiam o que faziam: o milagre servia pra deixar os pobres mais pobres, e portanto, mais brasileiros.

Todo mundo tem o direito de mudar, de querer algo melhor. Mas quando ouço todas as pessoas que passam pelo poder nesse país falarem sobre crescimento econômico, desenvolvimento sustentável e etcétera, eu fico pensando se isso não inverteria todo o fluxo das águas pelas quais o Brasil navegou pelos último 507 anos. E se deixássemos de ser bambas, e ficássemos ricos e tristes? A suposta 'alegria', o eldorado do mundo moderno, é uma das características do Brasil, o país da caricatura. Imagine se virássemos um país morto por dentro!

Bem, se você discordou de pelo menos 50% do que eu escrevi, ou ao menos detectou a ironia, tá oquêi. Mas se você concorda comigo, filho, bora pegar um pandeiro e rir nossa felicidade de papel.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Take it or leave it

Não queria postar hoje de novo, mas é só um toque: Arctic Monkeys fazendo uma cover bem bacana dos Strokes. Embora o Julian cante melhor e seja mais bonito que o Alex (não que isso faça alguma diferença pra mim, magina), é uma música sempre boa de se ouvir.


Fotografia, eu quero uma pra viver

A maioria da população não sabe, mas Joseph Nicéphore Nièpce, o inventor da fotografia, tinha poderes sobre-humanos. Ele era capaz de controlar a realidade. Vendo que inevitavelmente teria que morrer, trabalhou em uma maneira de imortalizar seus poderes por meio de uma técnica que se utilizava de dois processos conhecidos: a câmera escura e os sais de prata. Ele morreu antes mesmo de ver sua caixinha de poderes se tornar um sucesso, mas até aí não importa: seu legado estava marcado na humanidade para sempre.

Prova maior de que isso tudo é verdade é uma coisa chamada 'fotogenia'. Teoricamente, a função da fotografia é recortar um frame da realidade e torná-lo eterno. Porém, como você explicaria o fato de pessoas muito bonitas sempre saírem horríveis nas fotos? Ou pessoas bem mais ou menos se revelarem galãs e galoas?

O fator fotogenia foi apenas um recurso inventado por seguidores de Nièpce para desviar a atenção do verdadeiro poder da fotografia. Afinal, se todos ficassem cientes, imagine quão catastróficas poderiam ser as conseqüências! Um poder tão grande na mão de seres humanos, naturalmente despreparados para qualquer coisa que seja mais potente que um peteleco.

O grande problema é que com a crescente virtualização do universo, orkuts, msns e afins, a realidade de Nièpce se torna cada vez mais real. Como cada vez mais as pessoas se conhecem por trás de uma tela, uma boa foto é um baita cartão de visita. Ser de fato bonito agora é bastante relativo: se existe mais de uma realidade, qual vale?

Só contei pra vocês porque são meus amigos. A mim isso não afeta em nada, porque não consigo ficar bonito em realidade nenhuma (talvez em alguma surrealidade, mas deixa pra lá). É um segredo guardado há quase dois séculos, então esteja ciente da importância do danado. E tente fazer bom proveito ;)

terça-feira, 24 de abril de 2007

O Thiago e o Padula

- Paul! Paul, meu filho! O pessoal do jornal tá aqui, visse?

Quando o pai do Bono (o 'you' de 'Sometimes you can't make it on your own') o chamou pelo nome verdadeiro, o pessoal do jornal até levou um susto. Isso acontece muito com nós, pessoas de dois nomes (tatatatata, confesso, só escrevi essa baboseira toda pra me colocar na mesma classe do Bono). Eu, entre os familiares e amigos mais próximos (geograficamente), sou conhecido como Thiago, ou uma abreviação mais aveadada. O pessoal da escola, faculdade, trabalho, me chama de Padula. Afinal, ser Thiago nos dias de hoje É pra qualquer um.

É até tranqüilo lidar com esses dois universos. In fact, as diferenças entre o Thiago e o Padula são bem sutis: o Thiago é mais bobo, o Padula é mais triste. Mas, no fundo, são dois losers que não sabem o que fazer da vida.

O equilíbrio só é afetado quando um universo intersecciona com o outro. Amiga minha foi no pastel uma vez e a tia perguntou onde estava o Thiago, que andava sumido. Ela não sabia de quem se tratava. Às vezes ligam aqui e falam 'o Padula está?'. 'Qual Padula?'. E por aí vai.

Talvez você esteja aí pensando 'puxa, deve ser realmente complicado lidar com esses dois mundos, esses dois eus. Jamais conseguiria fazer isso'. Não é bem por aí. A única coisa mais difícil é administrar os egos: por vezes, o Padula quase matou o Thiago. Mas esse tipo de conflito acaba só nos mostrando quem é que manda de verdade, escondido nas sombras, movendo as peças como marionetes: o de Oliveira.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

I used to love her, but I had to kill her

Naquele ímpeto de encontrar razões claras para coisas obscuras, agora estão atribuindo a uma música do Guns n' Roses, ou ao rock como um todo, a culpa pelo massacre na universidade da Virginia (leia aqui).

Não entendo esse costume metonímico da opinião pública de culpar a parte pelo todo. Atribuir a responsabilidade de uma coisa tão gigante e absurda quanto um maluco esburacar 32 pessoas a uma... música?!

Na matéria que eu linquei acima, cita-se também a chacina de Columbine, em que crucificaram o pobre (?) Marylin Manson. E, pra termos um exemplo mais próximo, basta lembrar do outro retardado que saiu metralhando neguinho no cinema no meio da sessão de Clube da Luta (best movie ever).

A mãe não protege o filho, os colegas da escola o esculacham, o Estado despeja mendigos pra ele pular na rua, e aí ele ouve uma música e fica louco.

Ao invés de procurarmos padrões e razões para detectar como age um louco, deveríamos entender que algo tão atípico vem justamente da sua imprevisibilidade. Culpar as leis (sempre fui contra o comércio livre de armas de fogo, mas não vou me aproveitar disso agora), ou o rock, ou qualquer outro fator isolado é bobeira. Quando Deus fez Adão, sabia que poderia existir um Caim. Domesticamos os cavalos, domamos os leões, comemos as baleias, mas e dos homens, quem cuida?

Missão: ser humano - parte I: corpo são, mente sã

Desde que eu saí do colégio e a freqüência com que eu jogo bola mudou de rotineira pra sazonal, a prática de esportes desapareceu da minha vida.

Como, a partir de agora, eu quero me tornar um ser humano, como você, decidi cumprir uma série de missões que vão de alguma forma de ajudar a ficar mais perto dessa raça tão desprezível. E a primeira parte é, justamente, abandonar o reino vegetal e dar alguma atividade pro meu corpo.

Já que não tenho condições financeiras de pagar uma academia, e ver aquela mulherada toda dando duro ia ser danoso à costura do meu calção, decidi fazer em casa mesmo. Fui na internet (quê? se não posso confiar no Google, vou confiar em quem??) e baixei uma série de exercícios. Pra mulheres, evidentemente, porque sei das minhas limitações, e qualquer uma de vocês mulheres que possa ler isso me daria um pau se quisesse. Apesar dos particípios no feminino e palavras como 'bumbum' e 'culote', decidi encarar o desafio.

Cara, eu não estava pronto pra isso. Ou a mulher que escreveu aquilo é muito forte, ou gosta de ver os outros se foderem. Ao final (que precisou ser antecipado, pois meu corpo já pedia arrego - nem cheguei na parte do bumbum), os braços se recusavam a ir até o copo d'água (que pesava como chumbo), as pernas pediam um instante de reza, e manchas roxas se espalhavam pela minha visão. E não venha rir das minhas lamentações, pois, como já disse, sou uma moça no corpo de um... cabide.

De qualquer maneira, continuarei nessa árdua batalha pela minha sanidade (corporal e mental). Quando tiver notícias das outras etapas da Missão: ser humano, posto aqui também.

Issa!


Update: Depois que os músculos voltaram a seus lugares, resolvi sair pra dar uma caminhadinha, já que o sol não tava muito forte e... dammit! Esqueci o fator CO2. Gente, o que vocês estão fazendo com essa cidade?? Desliguem os carros, parem as máquinhas, peidem num saquinho, mas pelo amor de deus, eu preciso respirar!

Update 2 - day after: Depois de ter meu sono perturbado pelo grito ensurdecedor dos meus músculos, lembrei de algo que dizem: se continuar doendo muito depois dos exercícios, é porque você fez errado. Hum, certo. Essa vai ser a versão oficial então.

domingo, 22 de abril de 2007

As palavras que nunca são ditas

Existe, nas pessoas da mesma faixa etária e biombo cultural que eu, um natural e até inconsciente preconceito contra a Legião Urbana. Porque a gente tem esse costume de rejeitar tudo que tem uma boa aceitação popular, e nisso a Legião já pedia pra ser escurraçada. Tem mais um monte de motivos: o jeito afeminado do Renato, as chupações de Smiths e Cure, Pais e Filhos, a horda de gente feia que os idolatra.

Sempre me incluí no meio desse povo (o que repudia), e o fato de Legião tocar em todas as rádios, rodas de violão e reunião de jogo da galera contribuia pro tal 'efeito paisagem': você ouvia, mas entrava por um lado e saia pelo outro.

Mas os poucos, bem aos poucos, meu conceito foi mudando. No meio daquelas músicas despropositalmente decoradas, um ou outro verso acabava escapando a chamando a atenção. Um 'eu quis o perigo e até sangrei sozinho' aqui, outro 'senti teu coração perfeito batendo á toa e isso dói' ali, um 'há tempos nem os anjos têm ao certo a medida da maldade' acolá. Então você começa a cantar junto, e perceber que Pais e Filhos é um blues lindo, que Química é um esporro juvenil como o Charlie Brown jamais conseguiria fazer, que Faroeste Caboclo é uma opera rock suburbana incrível. E depois de um tempo de negação, resolvi admitir: Legião é legal.

Ainda não consigo ouvir um disco inteiro, é Renato Russo demais pra minha cabeça, nem consigo engolir e versão horrorosa pra Head On que eles fizeram, mas já posso dizer que se trata, sim, de uma puta banda. Que eu talvez nem goste tanto assim - como acontece com os Smiths - mas não deixa de ser uma puta banda por isso. Agora enfia seu preconceito no bolso e põe Tempo Perdido pra rodar, vai.

Viva o nervosismo


Tem um desenho, desses japoneses, que se chama Slam Dunk. Conta a história de um cara que, depois de entrar no colegial (ou Ensino Médio, para os politicamente corretos), se apaixona por uma menina que é fã de basquete, e então resolve jogar o esporte - pausa. Se o futebol é bretão, o basquete é o quê? Americão? Despausa -, revelando um talento insuspeito pra coisa, além de ter um físico privilegiado pra um atleta desse tipo.

Aí rola o primeiro jogo, o cara fica no banco, e de repente põem ele pra jogar. Toda a confiança que ele bradava fora das quatro linhas (e não era pouca) desaparece, ele é tomado pelo nervosismo e começa a fazer coisas sem sentido como andar com a bola ou se jogar de barriga sobre os adversários.

Esse tipo de nervosismo é muito comum quando a gente participa de algo pelo qual espera muito e em que o nosso desempenho é posto em jogo (no exemplo acima, literalmente, mas não é obrigatório). A insegurança é uma coisa tão presente na gente quanto aquela marca horrível de vacina que a gente tomou quando era criança. No meu caso, que sou uma pessoa (muito) tímida, a insegurança anda de mãos dadas.

E, cá entre nós, aquele frio na barriga antes de algo do qual a gente espera tanto é muito gostoso. Antes de jogar por um campeonato, antes de subir no palco, antes de meter pela primeira vez, antes de apresentar aquele projeto. O nervosismo pode atrapalhar, sempre atrapalha, mas faz parte do ritual. Quem nunca ficou ansioso por um evento importante que atire a primeira pedra - ou, melhor, enfia ela no cu, porque eu não posso ter respeito por esse tipo de gente.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Quando o sol se põe

Quando o sol se põe
e o ar fica tão frio
a lua vem brilhar
e nadar dentro do rio

e eu penso uma vez
e não consigo mais parar de ver
o que não existe mais
mas ainda brilha lá de trás

Quando o sol se põe
meu coração fica vazio
e não o faz quebrar
me pendurar no seu fio
feito de sombras ao luar
não é fácil de arrebentar
não vai mais voltar
o que ainda brilha lá de trás

dyle bod'n cysgu gyda ty



Tem essa música do Supercordas, essa aí de cima. Sabe a frase 'quando o sol se põe meu coração fica vazio'? Me acontece isso às vezes. Não que eu seja um big fan do astro-rei, deve ser mais uma coincidência de horários mesmo. Mas quando eu começo a ver minha sombra indo lá longe, e tudo ficando mais amarelo, dá uma sensação ruim, de que mais um dia está acabando e foi mais um desperdício de vida. Não digo isso porque sou um desempregado vagabundo, veja bem. Aliás, se eu não fosse um vagabundo, talvez tudo que eu disse serviria mais para quem devota seus dias à essa cornitude que é o trabalho.

Nah, esquece. É que o sol se escondeu por trás do horizonte mais cedo hoje, e bateu aquela melancolia. Amanhã ele nasce e tudo fica bem (relativamente).


Serviço:
Site do Supercordas, a banda mais legal do Brasil hoje.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Em boca fechada...

Na minha biografia vai ter um capítulo especialmente dedicado à minha relação com os dentistas, esses pedreiros do sorriso.

Minha mãe, por ser banguela, sempre prezou muito pela higiene bucal (ok, nem sempre, mas valeu o incentivo), e arrastava eu e meu irmão por essa cidade, naquele dentista caro pacacete na zona sul (o que cardealmente é o oposto da zona norte, onde eu moro). Usei aparelho, essas coisas todas, até que houve a despedida, tchau, ele ficando rico lá, eu ficando rico aqui (cof cof).

Pelo final do ano passado, vi a necessidade de voltar ao dentista, pois um dente doía bastante. Como não sou paranóico como a minha mãe, nem rico como o dentista antigo, fui num outro, aqui perto de casa, e por lá iniciei um tratamento que tem durado até hoje.

A média de espera, lá, é de 90 minutos. Sem brincadeira. O mais estranho é que eu gosto. Sabe, uma hora e meia olhando pro alto, é uma boa oportunidade pra pensar na vida e tal. Até evito fazer essas coisas em casa, guardo tudo pro dentista. E, dessa maneira, me acostumei a esse recreio semanal de integração entre eu e minha mente.

O problema é que, tirando essa relativa 'vantagem' que a visita ao consultório apresenta, ir até lá geralmente é um exercício doloroso de auto-constrangimento. Desde a recepcionista, que me trata como um retardado só porque eu sou quieto (hoje, ao cumprimentá-la, ela mandou: 'nossa, achei que você não falasse!'. O fato de eu cumprimentar ela todo dia e inclusive ter ligado ontem ainda não a tinha dado o número de evidências suficiente pra chegar a essa conclusão antes) - sabe, fala pausado, olhando nos meus olhos, gesticulando bem devagar, como se eu não fosse capaz de entender as merdas que ela fala - até a hora de cuspir, já na sala do dentista.

Deixa eu mudar de parágrafo, porque essa merece. Eu não sei cuspir. 'Como assim, Padula, além de não saber andar de bicicleta e encher bexiga, você também não sabe cuspir?'. Exato. Não sei o que há, eu faço todos os movimentos que parecem certos, puxo o catarro lá do fundo, dou aquela arranhada na garganta, e na hora de botar pra fora sai uma agüinha, que geralmente fica conectada à boca por um fio nojento. É extremamente embaraçoso, e eu sempre tento fazer com as mãos em volta, pra não deixar o dentista ver - mas nem sempre dá.

E então eu saio de lá, com o que seria a cota de constrangimento de vidas inteiras cumprida, mas que pra mim só dá pra um dia.

Ordem e regresso

Certo. Sem apresentações, você me conhece.

É mais ou menos o seguinte: eu tenho o fotolog, né, gosto dele e tudo mais. Mas escrever lá é meio chato, por uma série de limitações e tal. Então resolvi colocar cada coisa na sua prateleira: fotos, desenhos, inutilidades no fotolog, e o resto das inutilidades aqui. Tô no pique de escrever um monte de coisa, então façamos num lugar próprio pra isso, certo?

Desculpe fazê-lo ter que dar esse monte de volta, mas ei, encare isso como um motivo pra nunca mais ter que ler ou ver as minhas coisas. Olha aí, é bom pra todos.